Dirceu Gonçalves
A pandemia da Covid 19 ainda não acabou, mas já ocorre, salutarmente, a preocupação do quê, ao final, se fazer da estrutura montada para o seu combate. Antes de sua chegada, em fevereiro, o país possuía 17,9 mil leitos de UTI (Unidade de terapia Intensiva) e, ao longo desses meses, instalou mais 10 mil. É preciso lembrar que, antes do mal chinês aqui aportar, o sistema público de saúde já estava em crise. Os setores de emergência e corredores dos hospitais ficavam cheios de pacientes à espera de vagas para internação e muitos deles tiveram a vida encerrada precocemente em razão dessa carência. A idéia dos operadores é aproveitar esses equipamentos, adquiridos emergencialmente, para a solução dos problemas do dia-a-dia. Mas a preocupação está na falta de verbas para a manutenção. Os respiradores, monitores, aparelhos de hemodiálise e máquinas de raio X não funcionam sozinhos; precisam de pessoal que os opere, insumos e foco para o seu emprego.
Seria profundamente decepcionante se, depois de ter investido elevadas somas na compra das UTIs, as víssemos encaixotadas ou desviadas ao mesmo tempo em que o povo sofre nas filas à espera de vagas para internação. Fazem bem os especialistas da área ao externar sua preocupação com o futuro da estrutura. Espera-se que os governantes – presidente da República, governadores e prefeitos – e os parlamentares dos três níveis se esforcem para o encontro da solução. Chegou a hora de todos sentarem à mesma mesa para dividir responsabilidades. A alternativa mais viável, salvo outra que se prove melhor, é destinar esse equipamento aos hospitais públicos, e os que ainda sobrarem, serem remetidos às Santas Casas e hospitais filantrópicos que atendem ao SUS. Se, mesmo depois disso, ainda restarem conjuntos ociosos, destiná-los a hospitais particulares, no sistema de PPP (Parceria Público-Privada), onde os estabelecimentos se comprometam a instalar e manter em funcionamento para sua clientela e a atender sem ônus os pacientes que, mesmo depois de ampliada, a rede pública não conseguir absorver. Ainda poderá se fazer convênios com prefeituras para que tais UTIs funcionem estrategicamente no interior, podendo ser a salvação de pacientes graves, que hoje morrem no transporte às unidades hospitalares dos centros maiores.
Não podemos permitir que o material já instalado e operante caia em desuso, seja encaixotado ou desviado . O mais difícil, que é a compra, já está feito. Manter a operação é o mínimo que se pode esperar num país onde até a Constituição determina que Saúde é “direito do cidadão, dever do Estado”. A cidade de São Paulo parece estar adiantada na questão. O secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, prega o uso do material tanto para a solução das demandas reprimidas e na criação de novos serviços como, por exemplo, o tratamento da obesidade, que a prática tem demonstrado ser um dos complicadores aos infectados pelo coronavírus. Devem existir Brasil afora muitas outras carências descobertas nesse momento de emergência que, com os materiais adquiridos, poderão ser combatidas.
A pandemia levou a uma grande antecipação de compras de UTIs. Deixá-las sem utilidade depois que o mal epidêmico estiver dominado, seria um odioso crime…
_____
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da Aspomil (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo); [email protected]