Alessandra Cerri
A pandemia nos colocou isolados em nossas próprias casas. De repente um vírus microscópico mudou toda nossa rotina e fez aflorar nossos maiores medos, despertou em nós uma grande insegurança em relação ao amanhã. Nos fez entender que não somos tão soberanos e não temos controle sobre tudo como achávamos ou desejávamos.
A pandemia nos tirou também algo muito estimado e talvez até superestimado em alguns momentos: a liberdade; que por tantas vezes, erroneamente, é diretamente associado à felicidade. No entanto, o caos instaurado pela pandemia nos fez rever e entender alguns conceitos importantes e necessários ligados a ela e, talvez um dos mais significativos seja a compreensão de que a liberdade sem responsabilidade é perigosa e pode representar exatamente o seu oposto: nosso aprisionamento.
Embora a liberdade seja sim um aspecto de grande importância para a vida do ser humano, ela jamais pode ser dissociada de algumas questões como consequência, limites e consciência.
Christophe Andre, famoso psiquiatra, um dos pioneiros na introdução da meditação na psicoterapia e um dos autores do livro “O caminho da sabedoria”, comenta que quatro pilares são base para a construção da liberdade: equilíbrio interior, consciência do outro, aceitação das limitações e coragem.
O equilíbrio interior é fundamental à medida que possibilita a compreensão e regulação de nossas próprias emoções e impulsos. A consciência do outro é imprescindível para que entendamos que tudo o que faço no individual impacta e pode afetar a liberdade do outro (somos seres sociais e precisamos uns dos outros); a aceitação envolve uma espécie de submissão, humildade e espiritualidade para nos render a algumas limitações da vida ou regras instransponíveis e, o último pilar diz respeito a coragem tão necessária para nos permitir dizer não ou para nos possibilitar enxergar erros e mudar trajetórias e decisões.
A liberdade sem esses pilares pode ser perigosa, um risco para nós mesmos e para nossos semelhantes; pode ser também causadora de uma das maiores prisões que o ser humano pode vivenciar: a culpa, sentimento tão comum quando cedemos aos nossos impulsos e vontades sem considerar as consequências.
Essa pandemia mudou nossas vidas de várias formas, mas é inegável que ela nos provou de maneira irrefutável que a disciplina, o bom uso da liberdade consciente e respeitosa são aspectos chave para a proteção e evolução da humanidade.
Hoje finalizo com uma frase muito sábia do famoso filósofo francês Jean Paul Sartre “Viver é isso: ficar se equilibrando o tempo todo entre escolhas e consequências”. Que saibamos usar nossa liberdade de maneira consciente para entender que o nosso direito vai até onde começa o do outro. Até a próxima, namastê!
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Alessandra Cerri, sócia-diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba (Clap); mestre em Educação Física, pós-graduada em Neurociência e pós-graduada em Psicossomática.