Relacionamentos e pandemia: novas reflexões

Natalia Mondoni

 

Estamos vivendo, nos últimos 120 dias, uma situação que até então não esperaríamos nunca viver. Aliás, acredito que poucos de nós já viveu algo tão extremo assim. É claro que estou falando da pandemia, em decorrência do novo coronavírus. E, como consequência, o isolamento social.

Esse evento, desde que iniciou em nossas vidas, tem mudado completamente a nossa forma de viver e, principalmente, de se relacionar. Vemos e sentimos as mudanças em todos os nossos círculos de relacionamentos: no trabalho, na família, com os amigos, com a sociedade e até com nós mesmos.

Sim, sentimos as mudanças e não tivemos muito tempo para nos preparar para elas, elas simplesmente vieram. A propósito, sentir é um verbo que talvez, na nossa vida de “antes”, andasse meio em desuso. Com a correria, com os compromissos, com as agendas cheias, com o tempo limitado…estávamos, muitas vezes, vivendo a nossa vida de uma forma a passar por ela e não necessariamente senti-la. Quantas vezes trocamos momentos que realmente nos conectam como pessoas, por momentos que eram vividos no “automático”, e que, nesse novo contexto, temos a chance de retomar? Quantas coisas que vivíamos dizendo que não tínhamos tempo de dizer, e agora o estar junto (muitas vezes dentro de casa, dividindo o espaço) nos proporciona? E é justamente aí que podem surgir as dificuldades, uma vez que novas configurações de relacionamento foram criadas: pais e filhos em casa, todos juntos; casais convivendo de maneira mais próxima; home offices instaurados e trabalhadores experimentando trabalhar longe, mesmo que fisicamente, das suas empresas e gestores.

Aceitar que estamos passando por este momento e, obviamente, aprendendo com as experiências deste novo tempo, nos ajuda a alinhar as nossas expectativas e não nos frustrarmos quando tudo parece muito difícil. Sim, não é fácil para uma mãe se dividir entre o trabalho do seu home office e atender aos pedidos do filho. Mas, conversando e cedendo aqui e ali, por mais difícil que possa parecer, é o único caminho. Entender que teremos dias bons e muito produtivos e outros nem tanto assim, neste período, nos livra do perfeccionismo de tentar fazer tudo e, ao mesmo tempo, fazer nada. E, para além do relacionamento com os outros, saliento como podemos tirar proveito deste novo tempo para nos ouvir de forma mais profunda. Conheço pessoas que comiam sem ao menos sentir o gosto da comida – que dirá, daquele cafezinho após o almoço que aquece o coração e a alma. E que, agora, sentam e conseguem saborear uma deliciosa xícara de chá e pensar sobre o que vão fazer em seguida…

Pensando em tempos como esse – e não romantizando, pois são tempos difíceis – temos a oportunidade de escolher tirar alguma coisa que seja proveitosa ou não, ou seja, talvez olhar para a coisa de um jeito mais intimista. E, com certeza, aqueles que fazem esta opção podem pensar sobre como as coisas estão, como estão se cuidando, o que estão priorizando, quais as dores que ainda estão carregando e quais são as que necessitam de cuidados especiais.

Que seja um tempo reflexivo, introspectivo, e, sobretudo, de muitos cuidados. Começando, sobretudo, de dentro para fora. Fez sentido para você?  Com carinho,

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Natalia Mondoni, psicóloga, redes sociais Instagram psinataliamondoni, Facebook psinataliamondoni

 

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