Alvaro Vargas
Em episódio memorável, Jesus advertiu o apóstolo: “Simão, Simão, eis que Satanás obteve permissão para vos joeirar como trigo.Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, uma vez arrependido, fortalece teus irmãos” (Lucas, 22:31-32). Utilizandouma linguagem singela, o Mestre comparou a separação do joio (ruim) e do trigo (bom)que é realizada com uma peneira (joeirar), sobre a necessidade de Pedro vivenciar determinadas experiências na escola da vida, de modo a superar algumas deficiências morais. Satanás citado pelo Mestre, é apenas uma “figura de linguagem”, referindo-se aos espíritos atrasados que entrariam em sintonia com o apóstolo para “tentá-lo”, por sua fraqueza moral,não conseguir manter-se em sintonia permanente com os planos espirituais mais elevados.Jesus explicou que iria interceder em favor dele, atenuando a influência obsessiva, na medida da resistência do apóstolo, permitindoque através do próprio esforçosuperasseessa prova. E,convicto do sucesso de Pedro, pediu que uma vez “arrependido” (incapaz de voltar a errar), ele fortalecesse os demais seareiros.
Importante recordar que o melhor buril para o diamante é o próprio diamante. Pedro não seria testado pelos anjos do Senhor, e sim pelos espíritos que ainda se situam nas faixas sombrias do atraso moral. Jesusapenas permitiu que eles se aproximassem de Pedro, que pelo seu “livre arbítrio”, se permitiria sintonizar. Sobre esse ensinamento, nos diz o espírito Amélia Rodrigues (Há flores no Caminho, Divaldo Franco), lembrando o episódio na noite em que o Mestre foi aprisionado, que“somente aqueles que palmilham as estradas do sofrimento possuem resistência para a dor e autoridade para o ensino da verdade. Simão protestou, porém, fidelidade ao Senhor. Apesar disso, titubeou e caiu, não uma vez, mas três vezes”. Sabemos pelo próprio Pedro, que ele nunca se perdoou por ter negado Jesus, mas esse fracasso lhe permitiu ser mais humilde e compreender melhor as fraquezas humanas. Além disso, as amargas experiências que elevivencioudurante as perseguições empreendidas pelos detratores do cristianismo,serviram para o seu fortalecimento moral, tornando-sea “coluna de sustentação” na construção do Cristianismo na Terra.
A experiência de Pedro foi fundamental no apaziguamento de um embate dramático, que ocorreu na igreja de Antioquia, causado pela insistência dos adeptos de Tiago (filho de Alfeu), sobre a necessidade da circuncisão, em oposição à opinião do apóstolo Paulo (48 d.C.). Nos diz o espírito Emmanuel (Paulo e Estevão, cap. VI, Chico Xavier), que “a atitude ponderada de Simão Pedro salvou a igreja nascente. Considerando os esforços de Paulo e de Tiago, no seu justo valor, evitou o escândalo e o tumulto no recinto do santuário. À custa de sua abnegação fraternal, o incidente passou quase inapercebido na história da cristandade primitiva, e nem mesmo a referência leve de Paulo na Epístola aos Gálatas, a despeito da forma rígida, expressional do tempo, pode dar uma ideia do perigo iminente de escândalo que pairou sobre a instituição cristã naquele dia memorável”. A fortaleza moral adquirida por Pedro, conformeadvertira Jesus, conferiu-lhe a estrutura moral e psicológica para balizar as suas atitudes, de modo a permanecer sempre em sintonia com o Mundo Maior, permitindo a ele dar o necessário apoio aos companheiros de apostolado, evitando danos à obra do Senhor.
Guardando as devidas proporções, a exemplo de Pedro, Jesus permite que todos nós, na Terra, sejamos joeirados. As experiências que vivenciamos no plano físico, obedece a uma programação similar a um educandário terreno. O Espiritismo esclarece que essas experiências, por vezes dolorosas, fazem parte de nosso burilamento moral com o propósito de nos conduzir à felicidade. Isso nos consola, pois descortinamos um futuro radiante além dessa vida, se conseguirmos superar as provas que vivenciamos.
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Alvaro Vargas, Eng. Agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita)