Aldo Nunes
No domingo que passou, 11 de julho, como faço em quase todos os domingos, quando possível, assisti ao programa “Globo Rural” na TV Globo. Me chamou atenção à especial reportagem sobre a minha querida “ESALQ – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz”, lugar que muito frequentei na minha infância juntamente com meu pai. Confesso que a emoção me foi tamanha que meus olhos marejaram e meu coração se apertou como se estivesse recebendo o mais aconchegante abraço do meu pai, aquele que muito me ensinou das coisas da roça. Como piracicabano, ou caipira paulista, como somos conhecidos no meio rural brasileiro. Ressalto que também possuímos nossas “sete maravilhas” mais importantes: 1ª – O Sarto; 2ª – A ESARQ; 3ª – A Catedrar e 4ª, 5ª, 6ª e 7ª – Os 4 Farór da XV. Retornei-me aos “Meus Oito Anos”, o inesquecível poema de Casemiro José Marques de Abreu, nascido em 04/01/1839 no Rio de Janeiro e falecido em 18/10/1860, na mesma cidade, com apenas 21 anos de vida.
Vi no referido programa o meu conselho sempre lembrado nos meus artigos: “colocar a mão na massa”, a mais antiga e perfeita forma de ensinar tudo que aprendemos na vida, neste planeta. O meu passado se tornou presente e pude verificar que uma boa parte da juventude atual, independentemente da sua classe social, sexo, cor ou religião, contando com conservadores professores com bom, necessário e verdadeiro amor à arte de ensinar, não deixaram de aplicar a sabedoria dos seus mestres cultivada desde o início da história humana. Há muito tempo que não via o desprendimento dos jovens na busca pelo conhecimento e, nele colocando toda sua força, sua luta, trabalho e dedicação para vencer na vida. Ali estava presente o que sempre fiz para galgar o aprendizado e obter o sucesso, mesmo sem os recursos financeiros, hoje tão mais facilmente acessível. Assim é e sempre continuará a ser para toda profissão, se não quisermos que ela desapareça e também diminuam as oportunidades de trabalho. De nada vale a teoria sem que haja a prática, a vivência, o exercício do trabalho manual. O corpo físico nada mais é que o sensor dos comandos da mente e, se não for diariamente utilizado, perde sua capacidade sensória e não mais pode evoluir. Corpo doente e mente vazia não é só oficina do diabo, é, também, morada da dor, do ódio, da ira, da divisão da força, da falta de luz.
Os jovens que vi no programa mostraram que a referida escola de agronomia, a mais famosa da América do Sul, tem no seu corpo docente e discente elementos heterogêneos e miscigenados formando um ambiente de várias classes sociais que, ali estão de mãos dadas para uma união nacional e internacional com o objetivo único em aprender e desenvolver o conhecimento, em prol de uma vida melhor não só para eles como para todos. Ressalto que a agronomia é o meio primevo de sustentação da vida neste planeta. As demais ciências vieram para nos evoluir nessa caminhada com mais facilidade. Sem alimentação não há vida aqui na Terra.
Gostei de ver os estudantes colocando a mão na terra, nas plantas, nos animais ditos irracionais, assim como fazem os habitantes do campo, enfrentando sol e chuva, preparando o plantio, cuidando para ele crescer, entendendo a necessidade do sol, da lua, da água, da força da vontade, da persistência para obtenção do produto final e em especial, da necessária união e interação de todos para vencer os obstáculos.
O momento pelo qual passamos com o “covid-19”, com toda essa tecnologia existente, está despreparada para combater esse mal. A carruagem andou mais rápida que os cavalos. Esquecemos que os cavalos dependem de alimentação para ter força necessária para puxá-la e, fracos, deitaram, ela passou por cima com seus passageiros e carroceiro, que acostumados a não se preocuparem com os preciosos animais, descem montanha abaixo gritando como o sapo que, caindo do alto da cachoeira e vendo as pedras lá embaixo: “Sai de baixo senão te esborracho”. A tecnologia é necessária, contudo, é preciso que saibamos utiliza-la e para tal, testa-la antes de coloca-la em prática. Se ainda não dominamos nem mesmo as reações do clima, da força do pensamento, da colocação da mão na massa, nossa carruagem vai bater de frente nas pedras da cachoeira, salvo se o grito do sapo seja ouvido e, os anjos do céu com suas asas poderosas pairem no ar e suas mãos delicadas a coloquem sobre as nuvens e elas, baixem até a terra plana e limpa.
As notícias que se apresentam nesses últimos dias desta semana, são terríveis. A covid-19 não dá trégua e, a cada minuto se apresenta mais mutável e incontrolável. Sua velocidade de alastramento suplanta a tecnologia humana: “Rede 5G chegam no País sem o potencial total de Tecnologia”; “10 milhões de jovens não concluíram ensino médio”; “Brasil é país com mais grávidas mortas por covid” (Estadão, 16/07/20 B13 e A23 e, 15/07/2020 A24). EUA e vários outros países não fazem eleição eletrônica! Por que será? Antigamente havia lista telefônica! Por que não há para telefone celular? Com tantas pilhas e baterias em uso, onde jogaremos as usadas? Parece que a biometria não será utilizada nas eleições deste ano, será que essa tecnologia não deu certo?… Uma resposta sensata para essas perguntas vulgares, com certeza explicará muito bem que tecnologia é muito boa mas, por enquanto, ela é somente velocidade que suplantou às carruagens e não olhou para traz onde, o passado nos avisou, os mais velhos testemunharam e aprenderam que, quem tem pressa (velocidade) come cru e quente.
Meus 8 anos: “Oh! Que saudades que tenho/Da aurora da minha vida/Da minha infância querida/Que os anos não trazem mais/Que amor, que sonhos, que flores/Naquelas tardes fagueiras/À sombra das bananeiras/Debaixo dos laranjais!
Deixem-me cá com minhas lembranças, não pretendo ensinar coisas novas, talvez contá-las de uma nova maneira. Contudo, não desanimem, não pulem os degraus da escada da vida. Olhem sempre para trás. É de lá que nós viemos.
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Aldo Nunes, contabilista, advogado, consultor e Agente Fiscal de Rendas aposentado. E-mail: [email protected]