Plinio Montagner
A impressão que causa essa palavra é que a filosofia é uma subciência, ou nem isso. Mas tudo que o homem construiu e descobriu desde sua aparição por aqui foi porque ele refletiu, pensou.
Pensar é filosofar, e o objetivo dessa busca são os meios para o conhecimento de algo. Os focos principais da filosofia são as verdades do universo real acessível aos sentidos e dos universos das realidades extra-sensoriais, como a realidade cósmica, Deus, a alma humana e a fonte de princípios gerais para o conhecimento empírico (Kantismo).
Entretanto, o conhecimento adquirido se torna cruel, atrapalha, porque o saber tem a força de quebrar tabus e paradigmas.
Há uma questão que intriga nossa alma: As limitações do homem são fontes de felicidade ou de infelicidade?
Apesar de os resultados dessa inquietação tenha trazido progressos e contentamento de se chegar cada vez mais próximo da perfeição (que não existe), acompanha esse desejo a diminuição do tempo para gozar dos seus confortos.
Por outro lado, se a humanidade se acomodasse e não saísse de sua zona de conforto, o homem se nivelaria aos seres irracionais, ficaria como está, onde está, moraria do mesmo jeito, se locomoveria a sua maneira, permaneceria na miséria material e intelectual, e assim viveria pelos séculos afora nas trevas ante a luz do conhecimento.
A tese que norteia esse assunto partiu da genialidade de Arthur Schopenhauer, um dos maiores filósofos do século XIX, nascido em Danzing, na Polônia (1788-1860). Esta é sua assertiva: quanto mais bens materiais e espirituais o indivíduo tem e mais conhecimentos ele adquire durante a vida, menos tempo ele tem para seu corpo, para sua alma e prazeres.
É a apologia da incoerência, da contradição.
Se um atleta consegue ultrapassar sua marca é porque ele se esforçou para melhorar seu desempenho. Certamente vai ficar satisfeito; mas chegará o momento em que precisa de maior esforço maior para não perder sua marca e seu lugar.
É a desvantagem de ser campeão. É penoso manter a liderança; se perdida segue a insatisfação.
É estranho, mas é o paradoxo se contrapondo à logica.
Quando mais limitado for o nosso domínio físico, intelectual, perceptivo, financeiro, dos conhecimentos, de experiências e contatos, tanto mais prósperos e felizes seremos. A regra é: quanto mais riquezas, mais trabalho e menos tempo para os prazeres.
Schopenhauer a interpreta de modo diferente: “Quando mais se alargam nossos conhecimentos, tanto mais nos sentimos atormentados e atemorizados”.
Johann Wolfgang Goethe, escritor alemão, relaciona esse ponto às afirmações de Sócrates: “Quando mais conhecimentos adquirimos, mais dúvidas se instalam”.
Muitas desvantagens, porém, se agregam às vantagens, e vice-versa, muitas vantagens se agregam às desvantagens. Por exemplo, quem tem pouco, e pouco conhece, vive na simplicidade, gasta menos, ignora o supérfluo e o conforto extravagante do luxo desnecessário.
Também pertence a Goethe esta afirmação:
“Quem se satisfaz com o suficiente é porque o pouco lhe é bastante. E quem não se satisfaz com o suficiente, o desnecessário nunca lhe será bastante”.
Parece mesmo que o filósofo tinha razão. O ecletismo intelectual e a sabedoria em excesso desfavorecem a possibilidade da alegria.
Apesar do paradoxo segue a constatação de que a limitação do homem favorece sua felicidade.
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Plinio Montagner, professor aposentado