O rap

Eliete Nunes

 

É som da rua, mas hoje escutam até em condomínios, é som de rebeldes com causas, ouvido também pelos que não as tem. Muitas vezes é agressivo, mas não teria como ser diferente, tendo em vista que o que se retrata ali é a realidade. Realidade da barbárie vivida por todo periférico que ousa ter uma voz. Rap.

Oriundo da Jamaica e de datação incerta, o rap começou mais ou menos na década de 60, com o surgimento dos sistemas de sons, colocados nas ruas dos subúrbios jamaicanos. Além da música, os bailes serviam como palanque para mestres de cerimônia (origem do termo MC) que discursavam assuntos como violência das favelas de Kingston (capital da Jamaica) e da situação política da ilha. Basicamente se podia falar de todo assunto tido como tabu, drogas, sexo etc.

Devido à crise que assolava o país, muitos jovens jamaicanos migraram para os Estados Unidos, levando junto de sua bagagem, a sua tradição que envolvia os aparelhos de som juntamente do canto falado. Lá nos subúrbios, o rap começou a tomar mais forma e ficar mais parecido com o que temos hoje pelo mundo todo.

O rap é democrático, esqueça a ideia de instrumentos caros, e a necessidade de aulas musicais. Tendo o que falar, e um beat (batida, música de fundo, que pode ser sampleada, ou seja, reutilizar um trecho de alguma música já existente) e certo gingado, você já está fazendo um rap. Mas por mais simples que soe, para fazer um bom som, é preciso ser relevante no que se fala, e principalmente, ter sensibilidade, tanto em questão de pauta quanto em questão de sonoridade. O estilo não se limita a realidade, é uma arte onde se pode e se deve criar e voar. Mas é de bom tom não se esquecer e respeitar suas doidas origens.

No Brasil não poderia ser diferente, somos um país onde o rap construiu uma forte morada, desde grupos e MC’S da velha guarda dos anos 90 como Racionais, Realidade Cruel e Sabotage até os dias de hoje, com Emicida, Djonga, Criolo entre tantos outros artistas, que fazem do nosso cenário um dos mais consistentes do mundo.

Rap não é som para ele ou aquele, é som para todos, todos que tenham senso de noção, localização e de respeito. O rap inspira, ensina e orienta. É só querer ouvir.

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Eliete Nunes, enfermeira, advogada, foi Secretária Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de Piracicaba de 2012 a 2020; autora do livro Biografia de uma Gestão

 

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