Mais que um exemplo de força, Ascencion Caraiol Piccoli é um exemplo de vida. Aos 92 anos, ela mantém com regularidade o acompanhamento que faz há dez aos no CECAN- Centro do Câncer da Santa Casa de Piracicaba em decorrência das cirurgias às quais precisou se submeter por causa do câncer de mama.
A primeira cirurgia ocorreu em 2014 para retirada total da mama esquerda; e a segunda, em 2019, quando foi feita a retirada parcial da mama direita, conforme relata a médica mastologista Tânia Navarro Altamirano (CRM 143.248), que acompanha a história de dona Ascencion desde então. “Ela foi minha primeira paciente em cirurgia oncológica logo que ingressei na Santa Casa, há dez anos, e desde então, nos vemos duas vezes por ano nas consultas médicas de rotina para averiguação do estado geral de sua saúde”, disse a médica.
Para ela, estar com dona Ascencion é simplesmente revigorante. “Eu brinco que ela não vem para as consultas, ela vem para me ver; porque quando ela me abraça eu me sinto renovada e cada vez mais convicta da força que essa troca proporciona”, disse Tânia Navarro ao expressar a capacidade que dona Ascencion tem de enfrentar as adversidades da vida sempre com boas palavras e um sorriso no rosto. “Essa serenidade em aceitar o que não se pode mudar e fazer o que for possível para melhorar sempre, proporciona um estado emocional muito propício ao controle e cura da doença”, disse.
Ela revela que, em todos esses anos de tratamento, dona Ascencion sempre demonstrou muita força, coragem e disposição para enfrentar a doença. “Hoje, ela está bem e deve servir de exemplo para todas as mulheres que deixam de fazer os exames de rotina na rede pública de saúde após os 69 anos, conforme prevê o Ministério da Saúde”, frisou a mastologista.
Segundo ela, independentemente da idade, a mulher precisa continuar conhecendo seu corpo e tocando suas mamas no banho para observar possíveis nódulos ou mudanças em sua cor, elasticidade ou formato. “Em caso de alguma alteração, não tenha medo de procurar o médico, porque o tempo faz toda diferença com relação ao tratamento e à qualidade de vida dessas mulheres”, disse Tânia Navarro, afirmando que o câncer não é sentença de morte, mas uma prova para lutarmos pela vida.
Ela até vai ao baile
“Posso ir ao baile? ” Essa foi a primeira pergunta que dona Ascencion fez para sua médica depois da cirurgia, comprovando a intensidade com que ela procura viver a vida. A filha Marlene Piccoli Oliva, 68, que a acompanha ao médico, disse que a própria dona Ascencion se arruma e se maquia. “Ela adora um baile”, disse.
Ela conta que a mãe sempre enfrentou tudo sem reclamar e que, nos piores momentos, ela está sempre ao lado das quatro filhas, que hoje se revezam em seu cuidado. “Nós dividimos tudo, pois o peso da doença é grande e o apoio familiar muito importante para que ela e todos nós superemos essa fase com mais tranquilidade”, disse a filha Marlene.
Dona Ascencion concorda e revela que o esforço da família e de toda a equipe do CECAN e da Santa Casa tem valido à pena. “Todos os dias, eu me levanto, tomo o meu banho, ponho meu melhor vestido, o meu brinco e lá vou eu, porque eu não tenho medo do câncer nem da cirurgia; foi tudo muito rápido”, disse dona Ascencion, que tem oito filhos, 189 netos, 13 bisnetos e 3 tataranetos.
Como mensagem às mulheres, ela lembra que o mais importante em qualquer fase ou momento da vida é “não deixar o medo nos dominar e enfrentar com fé, amor e gratidão tudo o que Deus nos dá”.