Tito Kehl
Não, não se trata da volumetria revolucionária de um Guggenhein, nem das curvas celestiais e impactantes de um Calatrava, nem de nada capaz de elevar o espírito humano à altura das artes maiores. Tito Kehl
Não. A margem do Rio Piracicaba está sendo ameaçada de destruição para o erguimento de quatro monstruosidades, verdadeiros monumentos ao mau gosto burguês, de uma arquitetura medíocre, sem graça, datada, carregada de todos os vícios que denotam sua condição de lacaio do dinheiro e do baixíssimo nível cultural em que costuma chafurdar nossa classe média caipira.
Não sei, nem quero saber quem é o arquiteto que assina aquilo. Tenho pena, sinto vergonha alheia. Deixará como legado o testemunho de sua submissão ao dinheiro e aos costumes mais do que duvidosos dessa classe monetista e ignorante, que se considera a última bolacha do pacote. Com sorte, morrerá no anonimato, para não mais ser lembrado.
Sua arquitetura enfadonha e datada será motivo de chacota dentro de, no máximo, vinte anos, como aconteceu com os prédios mediterrâneos e neoclássicos de décadas passadas. Como assistimos hoje quando contemplamos o desastre que é Balneário Camboriú.
Mas aí, será tarde demais.
E a beleza do rio terá sido irremediavelmente trocada pelas trinta moedas de meia dúzia de milionários, que enfiam goela abaixo da cidade, da população, da história e da arte, seu próprio mau gosto, na forma desses behemoths de concreto e desse ridículo, patético Boulevard.
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Tito Kehl, arquiteto