Plinio Montagner
Antonio Abujamra (1932-2015), diretor de teatro e ator, era bastante conhecido pelo estilo audacioso de suas entrevistas no programa “Provocações” da TV Cultura. Ao encerramento de seu programa sempre perguntava ao entrevistado: o que é a vida?
O interessante é que essa pergunta deixava os entrevistados embaraçados, como se o que dissessem chocasse o entrevistador. Em verdade, esse tipo de pergunta, e ainda num programa de TV de muita audiência, é para se pensar mesmo antes de falar.
Aparentemente cada um tem sua resposta, e a dá do seu jeito. Acho que nenhuma é certa ou errada, nem quem responde tem certeza. A vida passa e muito se aprende, novos conceitos vão derrubando os mistérios.
Esse tópico parece pertencer mesmo ao universo das ciências humanas e biológicas, bem distante das ciências exatas, como a demonstração do teorema de Pitágoras. Ninguém detém por completo o saber, todas as experiências da vida e a capacidade do raciocínio.
Esse tema nos parece ser mesmo exclusivo da filosofia, que trata do pensamento e dos modos como o ser humano pode conhecer a verdade. Rigorosamente a filosofia não é uma ciência, ela é um modo abstrato de manter a chama que aquece o homem na busca do conhecimento. Ela mesma não responde, estimula, provoca, ajuda o homem a encontrar os caminhos das respostas.
O que ela mais se importa é manter o movimento das questões humanas, lançando perguntas, não responde nada diretamente, dá dicas, lança sementes da sabedoria por meio de diálogos, metáforas, comparações e analogias.
Então, quem poderia dar à humanidade as respostas das questões da vida?
A curiosidade, a insatisfação, a falta do que não se tem e do que se perde movem a mente humana a sair da obscuridade, da ignorância e entrar no espaço da luz do conhecimento. E aos poucos, o que era mistério vai deixando de ser mistério, o que era sombra, que não era nada, era a projeção da realidade ignorada pela corrente da submissão.
Clovis de Barros Filho, filósofo contemporâneo, jornalista e professor, responde sobre a vida: um intervalo de tempo e uma condição em que a energia busca mais energia.
Epicuro (341-271 a.C), filosofo grego: A vida é uma tragédia, vivemos e morremos por acaso, e depois da morte não há outra vida nem mais nada. A imortalidade não existe.
Mário Sergio Cortella, escritor e teólogo, comenta: A vida é um mistério, não se sabe a origem nem o término, mas que ninguém quer perder. Não se sabe como entramos nela, nem para onde vamos, mas dela não queremos sair.
Arthur Schopenhaur (1788-1860) – filósofo alemão, diz que a vida é um pêndulo que oscila entre o enfado e a frustação. É uma alternativa entre a dor proveniente da necessidade e do desejo de obter algo (ou alguém), ou do tédio, que decorre da satisfação que provém da necessidade, imaginada ou não, abastecida. Resumindo, a vida deriva entre o querer e o conquistar. A falta gera amor e gera desejo; enquanto a conquista gera enfado, frustração, tédio, desamor.
Os físicos, que adotam uma definição materialista ao excluir o Deus criador, sintonizam a vida a tudo que possui movimentos propulsionados por uma energia produzida pela matéria. (ou ordem inversa: “pela matéria produzida pela energia”). Esse dualismo é igual à velha questão: quem nasceu primeiro, foi o ovo ou a galinha?
Seria vida apenas o ato de existir? Um presente de Deus?
Para amenizar esse penoso assunto, é melhor é ficar com o indiscutível: a vida existe; é um movimento que não tem marcha à ré e não para.
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Plinio Montagner, professor aposentado