Por que reencarnamos?

Álvaro Vargas

 

Nicodemos, “doutor da lei” no grande templo judaico, procurou Jesus a fim de compreender melhor o “reino de Deus”. Neste diálogo, registrado pelo espírito Humberto de Campos (Boa Nova, Chico Xavier), o Mestre orientou para que ele sentisse os textos sagrados, antes de racionar, explicando que para evoluirmos necessitamos de “nascer de novo”. Entretanto, Nicodemos deixou o encontro sem ter compreendido esse princípio básico da justiça Divina. O Espiritismo esclarece que durante o nosso processo evolutivo, não basta apenas desenvolvermos a inteligência, necessitamos também, de conquistar os valores morais. O equilíbrio entre ambos permite adquirimos a necessária sabedoria. Tiago, presente nesse encontro, após ouvir maiores considerações sobre a reencarnação, pediu a Jesus que explicasse isso ao povo. Mas o Mestre ponderou, se até um “doutor da lei” saiu sem que ele pudesse explicar toda a verdade, como poderia proceder de modo contrário, para a compreensão simplista do espírito popular?

Durante os três anos de divulgação da Boa-nova, os discípulos tomaram conhecimento sobre a reencarnação. Existiam dúvidas, se de fato Jesus era o Messias, pois de acordo com a profecia, Elias viria primeiro (Malaquias, 4:5-6). Mas ele esclareceu “Eu, todavia, vos afirmo: Elias já veio, mas eles não o reconheceram e fizeram com ele tudo quanto desejaram. Da mesma forma, o Filho do homem irá sofrer nas mãos deles. Os discípulos entenderam, então, que era a respeito de João Batista que ele havia falado” (Mateus, 17:12-13). João Batista, primo e contemporâneo de Jesus, só poderia ser então o Elias reencarnado. Embora a igreja Católica Romana tenha abolido a crença na pré-existência da alma (Concílio de Constantinopla em 553 D.C.), essa decisão, mesmo tendo obscurecido o raciocínio da sociedade nas questões espirituais, não enfraqueceu a difusão do Cristianismo, pois os valores morais ensinados por Jesus se mantiveram inalterados através dos séculos.

Assim como Nicodemos na época não estava preparado para compreender a reencarnação, a nossa humanidade (exceto algumas regiões da Ásia), necessitou de mais de dezoito séculos, desenvolvendo a sua inteligência e sentimentos, para que Jesus viesse conforme prometeu (Mateus, 24:42), e como o “Espírito da Verdade” (O Livro dos Espíritos, Allan Kardec), trouxesse a sua mensagem consoladora, explicando que a justiça Divina e nossa evolução ocorrem através da reencarnação. Temos realizado grandes conquistas científicas, mas é surpreendente a quase completa ignorância espiritual da maior parcela de nossa população. Somos gigantes no campo intelectual e ainda pigmeus no campo moral. Mais de 70% dos indivíduos ditos religiosos, creem em um inferno eterno. Isso é desmentida pela bondade de Deus, pois o próprio Mestre esclareceu “Assim, vosso Pai que está nos céus, não quer que se pereça um só de seus filhos” (Mateus, 18:14), praticamente uma negação da existência do inferno (Depois da Morte, Leon Denis).

Durante o seu encontro com Jesus, Nicodemos não havia vencido às barreiras mentais criadas pelos rituais e a forma de interpretar o Judaísmo. Mas Jesus de forma insistente vem gradativamente despertando as nossas consciências ao longo dos séculos, através do mecanismo reencarnatório.  Com o advento do Espiritismo, é possível resgatar a pureza de sua doutrina libertadora, unindo o raciocínio ao sentimento, de forma clara e coerente. Não mais um inferno eterno, nem um céu contemplativo e ocioso. “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (João, 5:17). Ao descortinar o mundo espiritual, a doutrina espírita esclarece que trabalhamos sempre nos dois planos da vida. Aqueles que ainda permanecem refratários à mudança de conceitos, são alunos retardatários na grande escola terrena, que apenas necessitam de mais tempo, de modo a compreender melhor que a reencarnação é uma oportunidade educativa maravilhosa oferecida por Deus.

_____

Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima