Julio Vasques Filho
O homem viveu como caçador e coletor até cerca de 12.000 anos atrás, antes que começasse a plantar e assumir como comum a tarefa de produzir o próprio alimento. A Agricultura foi inventada várias vezes ao longo da história humana e em diferentes partes do mundo, mas surgiu pela primeira vez – é o que os registros arqueológicos sustentam – em uma região, por isso historicamente importante para a humanidade, apelidada de Crescente Fértil que leva este nome porque, localizada entre os rios Tigre, Eufrates, Jordão e Nilo, tem um formato, em um mapa, que se assemelha ao de uma lua crescente. Os primeiros grupos de agricultores foram acumulando vantagens em relação àqueles que tinham que ir em busca de seus alimentos coletando-os nas plantas. Aqueles comiam melhor, se tornaram mais prósperos e numerosos, e, graças a esse sucesso, a ideia de cultivar o próprio alimento se popularizou. Assim tal atividade, que levou ao fim do nomadismo para a maioria dos povos, vem sendo desenvolvida em áreas que podem estar mais ou menos distantes das cidades o que acabou por consolidar a ideia da existência de duas áreas distintas de ocupação pelo homem: a urbana e a rural. Só a partir do início da Revolução Industrial em nosso país, em 1930, começaram a surgir as condições que desencadearam o crescimento do êxodo rural, mas até 1950 a população brasileira ainda era predominantemente rural; as principais atividades econômicas estavam associadas à exportação de produtos agrícolas, destacando-se entre eles o café. É nesse cenário que em 1892 Luiz Vicente de Souza Queiroz doa a Fazenda São João da Montanha ao governo do Estado de São Paulo para a criação de uma Escola Agrícola Pratica, que, criada em 1900 e inaugurada em 1901 com o nome de Escola Prática Luiz de Queiroz, é elevada ao nível universitário em 1925. Passados 99 anos, embora seu atual nome, de Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiros, recebido em 1931, preserve sua origem e sua história, a iniciativa de seu criador evoluiu até que, por uma questão de coerência científica, chegássemos ao que ela é em verdade atualmente: a Faculdade de Engenharia Agronômica Luiz de Queiroz.
“Um sistema é um conjunto de elementos que são interdependentes e que formam um todo organizado”. Por comporem um conjunto de elementos interdependentes que mantem entre si uma clara e visceral “interação” que resulta no processamento de “entradas em saídas”, o solo, a planta, e o clima, podem ser considerados, indiscutivelmente, como uma unidade formada por componentes de um sistema que é o objeto essencial da Agricultura, da Agronomia e da Engenharia Agronômica. A palavra agricultura, que identifica essa arte milenar, é formada pelo prefixo “agri”, de origem latina, com significado que remete às ideias de campo, de presença de plantas e de vegetação, e do radical “colere” que significa cultivo, terra cultivada ou cultivável. A Agricultura é, portanto, uma atividade desenvolvida em condições naturais que se utiliza de métodos empíricos para a produção de bens de origem vegetal. A palavra agronomia é formada pelo prefixo “agro”, de origem grega, com o mesmo significado do prefixo “agri” (de agricultura) e pelo radical “nomia” que exprime a ideia de normas, regras e leis, ou seja, de ciência. A Agronomia é, então, uma atividade exercida em condições ambientais controladas, em laboratório, em estufa e no campo, para a geração de conhecimentos e métodos científicos fundamentais para o entendimento das interações dos componentes de um sistema solo-planta–clima e deste com os demais componentes bióticos e abióticos do ambiente. Sendo a Engenharia a aplicação de métodos científicos ou empíricos à utilização dos recursos da natureza em benefício do ser humano, a Engenharia Agronômica vem a ser a aplicação, em benefício do ser humano, de métodos empíricos e científicos em geral, além dos criados pela Agricultura e pela Agronomia, que permitem que seja feito o ajuste dos componentes bióticos e abióticos de um bioma ou ecossistema para que uma espécie vegetal específica manifeste seu máximo potencial produtivo em tais condições; o que resulta na prática sustentável da Agricultura.
Talvez por razoes históricas as entidades de fiscalização do exercício de profissões de engenharia em seus estados ainda são identificadas pela sigla CREA de Conselho Regional de Engenharia e Agronomia.
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Julio Vasques Filho, Professor Doutor aposentado da Esalq-USP