Dirceu Gonçalves
As redes sociais têm rendido muita polêmica nos últimos tempos. Através delas, grupos e indivíduos externam suas opiniões, muitas vezes tentam cooptar e, em certas situações, têm sucesso. O exemplo mais claro da potência do sistema está na eleição do presidente Jair Bolsonaro. Hospitalizado em razão do atentado sofrido em Juiz de Fora (MG), conseguiu ele fazer sua mensagem chegar ao eleitorado e este deu-lhe os votos necessários. Há que se compreender, no entanto, que a eleição não pode ser atribuída exclusivamente à rede. Ela foi importante, mas o candidato já desfrutava de vantagens que vinham de sua trajetória parlamentar e, principalmente, da derrocada de seus adversários quando no poder. A tentativa de eliminá-lo, que ainda não está devidamente esclarecida, é prova disso.
A internet e suas ferramentas têm de ser compreendidas como canais de difusão de informações e interação que, pelas suas características, hoje concorre com os meios tradicionais – jornal, rádio e televisão – mas também com eles pode somar, quando seus canais podem servir como mais um meio de difusão a estes veículos. A população é que tem de ser educada para compreender a justa medida e as diferenças entre as fontes. Assim como fazemos para escolher nossos jornais, rádios ou TVs, temos também de observar a tendência e os objetivos dos demais que produzem e nos oferecem informações. Nada impede que tenham tendências e objetivos até ideológicos, mas, para ser honesto e positivo, seu atrelamento tem de ser explicito e, se não for, levará ao descrédito.
Todo produtor de informação – desde as grandes corporações até o comunicador solitário – não pode descumprir a legislação geral e, quando o faz, prfecisa ser chamado à responsabilidade. Isso também tem de valer para o material exposto nas redes sociais. Nada de censura (que é proibida), mas a exigência de explicitude de quem faz a publicação e deve por ela responder. A sociedade tem de criar mecanismos que garantam o acesso de todos que desejarem utilizar o meio mas exigir que o façam com responsabilidade. Isso já se exige dos veículos de comunicação e garante a estabilidade do meio.
Temos de raciocinar que o ambiente virtual deve ser comparado com um mundo à parte. Se nele quisermos conviver, temos de respeitar regras para não enveredar a um território sem lei. Mesmo sendo virtual, o ambiente da rede pode ser usado para ajudar e promover o bem-estar das pessoas mas, se não houver regulamento e bom senso, os problemas serão muito grandes. E isso nada tem a ver com censura (que é proibida neste país). Trata-se apenas da utilização responsável dos meios de comunicação. Cada produtor de conteúdo tem de responder por aquilo que divulga, pura e simplesmente. E para isso já existem as leis que regulam sociedade.
Estão presentes nas próprias redes sociais, alertas de que alguém vêm tentando atrair jovens para um jogo que induz ao suicídio. Essa é uma atividade criminosa que tem de ser severamente punida. O mesmo ocorre com tentativas de golpe, discriminação, pornografia infantil e outras inconformidades sociais capituladas no Código Penal. Governos e a sociedade por suas forças têm de buscar a forma mais adequada de utilização da internet e seus serviços. A rede tem de levar consigo o viés do progresso e do bem-estar geral. Jamais ser censurada mas, para o bem geral, nela não deve ser admitida a difusão de qualquer tipo de informação ou material sem a citação da fonte pois, como nos meios tradicionais de comunicação, quem publica, assume a responsabilidade pelo material.
A rede tem de ser entendida como uma poderosa ferramenta. Seus usuários precisam desenvolver um conjunto de atitudes e procedimentos que potencializem o bem-estar e o progresso da sociedade e mantenha afastadas as possibilidades de agravos e crimes. Quem aprendeu as regras de viver na sociedade, tem de utilizar algo parecido para o mundo virtual, na certeza de que se assim não fizer, poderá enfrentar problemas. Sabendo usar, a estrutura só poderá fazer bem às pessoas e à sociedade como um todo.
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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da Aspomil (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo); [email protected]