Paiva Netto
Em 21 de outubro, há 35 anos, tive a honra de inaugurar com a indispensável ajuda do povo, em Brasília/DF, o Templo da Boa Vontade (TBV).
Desde que abriu suas portas, o TBV é, segundo dados oficiais da Secretaria de Turismo do Distrito Federal (Setur-DF), o local mais visitado da capital do país.
Num artigo que escrevi para a Folha de S.Paulo, em 9 de agosto de 1987, delineei o espírito que norteia a Pirâmide das Sete Faces:
A construção do Templo da Boa Vontade, com um só altar e um trono exclusivamente dedicados ao Senhor Deus, tem como supremo objetivo reunir todas as criaturas, sejam quais forem suas crenças ou descrenças (ateu também é filho de Deus), conduzindo-as à Unidade da Fé Realizante com base no Ecumenismo Irrestrito. A Fé Realizante é aquela que se opõe à ociosa, egoística. (…) Revelou Jesus à samaritana, junto ao Poço de Jacó, em Seu Evangelho, segundo João, 4:1 a 30: “Deus é Espírito” e, por isso, “breve não mais será adorado em templos de pedra feitos pela mão do homem”. Por ser Espírito, “Ele procura, para Seus adoradores, aqueles que O adorem em Espírito e Verdade”. O TBV é, pois, a fase intermediária entre os templos de pedra e a época tão esperada em que os seres humanos não mais necessitarão de templos materiais para orar a Deus. Natura non facit saltus*1. Por ser uma etapa transitória, aplicam-se a ele estas palavras inspiradas no ensinamento do Cristo Planetário: “Neste Templo até as pedras clamarão que Deus é Espírito e importa que seja adorado em Espírito e Verdade”.
Corresponde a dizer que nos tempos vindouros evoluirá a concepção restritiva de se adorar Deus apenas quando sob tetos materiais. Os templos, por mais que louváveis, não serão essenciais.
Curiosamente, nessa era ideal, sua frequência será a mais gloriosa de todos os tempos da humanidade, porque haverá os seres humanos compreendido ter Deus dentro de si mesmos. Ninguém mais se atreverá a frequentá-los como quem vai a uma descartável obrigação social, a um piquenique, a um desfile de moda. Quadro que entristece os religiosos compenetrados de sua missão. O lugar preferido por Deus para Seu culto é o coração humano. Não há aqui censura alguma aos que veneram seus templos para adoração ao Todo-Poderoso. De outra forma, como construiríamos o da Boa Vontade em Brasília?
O que concebemos é uma antevisão do que anunciou o Cristo. Dia virá em que a humanidade inteira será reconhecidamente o Templo do Deus Vivo — território sagrado, onde todos poderão viver em Paz, como profetizou Isaías no Velho Testamento da Bíblia Sagrada. O ser humano finalmente entenderá que o Pai Celestial em Sua infinita sabedoria deve ser buscado e vivido em todos os lugares, durante todos os segundos da existência. Os sacerdotes sempre serão sacerdotes. Isto lhes nasce da Alma: em seus templos e em qualquer parte. Sentem-se assim as criaturas de Fé, em todos os pontos do mundo.
O ser humano pode tentar, ainda que em vão, destruir as religiões na Terra: contudo, jamais conseguirá extinguir a religiosidade que nasce com ele, mesmo quando ateu.
Dia do Ecumenismo
Em homenagem ao Templo da Paz, foi oficializado em Brasília o 21 de outubro como Dia do Ecumenismo. A iniciativa recebeu a adesão de outros pontos do país, a exemplo dos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, e da cidade de Novo Hamburgo/RS.
O seu piso foi construído em granito com o desenho de uma espiral, de modo que, ao entrar na Nave, o peregrino percorra o caminho de cor escura, que gira em sentido anti-horário, representando a jornada difícil do ser humano, em busca de um ponto de equilíbrio. Na volta, caminha-se pela trilha de cor clara, que representa a nova jornada, iluminada por valores morais e espirituais. A tradição de caminhar pela Espiral e com os pés descalços foi criada pelos próprios peregrinos.
Durante todo o mês, uma rica programação cultural, religiosa e ecumênica celebra os 35 anos do TBV. Ele está localizado na Quadra 915 Sul, Brasília/DF.
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José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor; [email protected] — www.boavontade.com
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NOTA
(1) Natura non facit saltus — O pensamento de Leibniz também é encontrado da seguinte forma: Natura non facit saltum. A variação de ortografia (saltus e saltum) exibe uma mera diferença numeral, porque, em latim, o substantivo saltus — que significa “salto” — pertence à quarta declinação. Assim, seu singular acusativo é saltum (salto), enquanto seu plural é saltus (saltos).