O trem russo

Eduardo Simões

 

Algumas pessoas, especialmente jornalistas, apresentadores e analistas da grande imprensa têm agitado frequentemente a ameaça de Putin com relação às armas nucleares, inclusive arregalando os olhos, como se depois dessa ameaça repetidas tantas vezes, após o rompimentos desta, daquela e daquela outra linha vermelha, fosse agora se consumar, e como se isso não tivesse nada a ver com a simpatia ideológica dominante da grande imprensa. Salvo honrosas exceções.

Sabemos que Putin e todos os seus mais próximos sabem que o outro lado também possui armas nucleares e, principalmente, que estas não explodem na rampa de lançamento, como aconteceu com os quatro últimos mísseis russos, ao tentaram sair do silo onde estavam armazenados, Deus sabe em que condições. A preocupação maior é mais o mal que com elas os russos podem fazer a si mesmos. Talvez os russos precisem aprender sobre essa tecnologia com a Coreia do Norte.

Putin também sabe que se apertar o botão ele terá contra si a própria China, que prefere mil vezes a destruição da Rússia que a do resto do mundo, onde os chineses podem ganhar mais. E logo agora, depois de 3 mil anos, em que os chineses começam a despontar como uma liderança mundial, os russos, que sempre os irritaram, vão destruir o mundo!

Repete-se no Ocidente, um medo comum nos anos 90, quando todos se perguntavam o que aconteceria se a ex-União Soviética se esfarelasse de repente. Qual seria o custo da sua autodestruição? Esse receio ainda impressiona muita gente (Trump), que coloca a questão da seguinte maneira: o mundo perderá muito mais, em riqueza, com a destruição ou desmoralização da Rússia, do que com a da Ucrânia.

Vamos então apaziguar a Rússia, seria a proposta mais pragmática, mas não esqueçamos que esse mesmo pragmatismo, nos anos 1930, não evitou o começo da Segunda Guerra, antes dificultou a vitória sobre Hitler, causou o aumento no número das baixas civis e militares, e entregou a Europa Central a 40 anos de ditaduras comunistas sanguinárias.

Talvez não dê para evitar uma 3ª Guerra Mundial, mas é preciso agir com firmeza, antes que aqueles que a desejam e esperam tirar vantagens com ela, espalhem demasiado os seus tentáculos e convençam a outros que as democracias não vão reagir, que estão falidas, e assim tornar o custo da guerra em termos tanto de vidas e valores, muito maior.

Quanto à Rússia, há uma história curta, mas perspicaz sobre a sua evolução e o seu final.

Os líderes russos estavam confortavelmente no vagão presidencial de um trem, quando este, sem explicação, parou. Lênin levanta-se e diz: vamos prometer mais coisas para as massas!. Já Stalin, gritando de uma janela: Fuzilem o maquinista. Kruschev, no seu revisionismo oportunista: vamos pegar os trilhos de trás e colocar na frente. Brejnev diz: Fechemos as cortinas, peçamos o serviço, e vamos fazer de conta que o trem está andando. Chernenko está velho e doente demais para dizer alguma coisa e Andropov morreu antes que se pudesse saber a sua opinião. Gorbachov diz: Tanto faz, afinal a gente estava indo na direção errada.  Boris Yeltsin, morto bêbado, Deixa que eu resolvo, foi para a locomotiva, chutou o maquinista fora e pôs-se a dirigir o trem feito um louco. Na primeira curva o trem sai dos trilhos em um acidente horroroso. Do meio das ferragens, sai um pequeno e medíocre agente da KGB, chamado Putin, e começa a incentivar os outros, Levantem-se companheiros, que ainda não acabamos com os trilhos!

Gostaria de encerrar com a profecia com que Winston Churchill recebeu o Primeiro-Ministro Neville Chamberlain, promotor do mais infame tratado assinado pela Inglaterra, o Acordo de Munique, de 29 de setembro de 1938, que entregou a Tchecoslováquia a Hitler, da mesma forma que Lula quer entregar a Ucrânia para Putin: Entre a desonra e a guerra, ele (Chamberlain) preferiu a desonra e terá a guerra!

 

 

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Eduardo Simões, professor aposentado.

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