A hiperatividade, frequentemente associada ao Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), é um tema que suscita muitas discussões, especialmente no âmbito da educação e do convívio social. Este transtorno, que afeta cerca de 5% das crianças em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é caracterizado por um padrão persistente de desatenção, hiperatividade e impulsividade, que interfere no desenvolvimento e nas atividades diárias do indivíduo.
O diagnóstico de hiperatividade não é simples, pois envolve a análise de um conjunto de comportamentos que precisam ser observados de forma sistemática ao longo de um período significativo de tempo. Geralmente, ele é feito por profissionais de saúde mental, como psicólogos ou psiquiatras, com base em critérios definidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). O diagnóstico também leva em conta relatos de pais, professores e cuidadores, além de uma avaliação clínica detalhada. É importante destacar que não existe um exame de laboratório que detecte a hiperatividade, o que pode gerar incertezas e controvérsias acerca da identificação do transtorno.
Existem diferentes tipos de hiperatividade, classificados de acordo com os sintomas predominantes. O tipo combinado é o mais comum e envolve sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. O tipo predominantemente desatento é caracterizado principalmente por dificuldades de concentração e atenção, enquanto o tipo predominantemente hiperativo-impulsivo se manifesta mais por agitação motora e comportamentos impulsivos. Essa diversidade nos tipos de hiperatividade torna o diagnóstico ainda mais desafiador, pois é necessário diferenciar entre comportamentos que são normais para a faixa etária e aqueles que realmente indicam um transtorno.
A hiperatividade afeta de maneira significativa a educação e o convívio social. Na sala de aula, crianças com TDAH podem apresentar dificuldades em seguir instruções, completar tarefas e manter a concentração, o que pode resultar em um desempenho acadêmico abaixo do esperado para a idade. A impulsividade pode levar a conflitos com colegas e professores, gerando um ambiente escolar desafiador tanto para a criança quanto para os educadores. Estudos apontam que aproximadamente 30% das crianças com TDAH têm algum tipo de problema de aprendizagem associado, como a dislexia ou a discalculia, o que agrava ainda mais o desafio educacional.
Além disso, no âmbito social, o comportamento hiperativo pode dificultar o estabelecimento e a manutenção de amizades. A impulsividade e a falta de autocontrole, características comuns em pessoas com hiperatividade, podem ser interpretadas como falta de respeito ou desconsideração, gerando conflitos e isolamento social. Isso pode afetar a autoestima e o bem-estar emocional do indivíduo, criando um ciclo negativo que se perpetua ao longo do tempo.
O tratamento da hiperatividade geralmente envolve uma abordagem multimodal, que inclui medicação, psicoterapia e intervenções educacionais. A medicação, principalmente os estimulantes, como metilfenidato e anfetaminas, tem se mostrado eficaz em muitos casos, ajudando a controlar sintomas de impulsividade e hiperatividade. Contudo, é importante lembrar que o uso de medicamentos deve ser sempre orientado por um profissional de saúde, pois cada caso é único e a resposta aos medicamentos pode variar significativamente.
A psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental, pode ajudar a criança ou o adulto a desenvolver habilidades de autorregulação emocional, lidar com a frustração e melhorar as interações sociais. Estratégias de manejo de comportamento também são frequentemente recomendadas para pais e professores, a fim de criar um ambiente estruturado e de suporte que favoreça o desenvolvimento do indivíduo hiperativo.
A busca pelo equilíbrio emocional é essencial no tratamento da hiperatividade. Para além das intervenções clínicas, é importante que a sociedade como um todo compreenda que a hiperatividade é um transtorno complexo que exige empatia e suporte. Crianças e adultos hiperativos precisam de compreensão e aceitação, bem como de estratégias adequadas para lidar com suas dificuldades.
Dados sugerem que cerca de 60% das crianças diagnosticadas com TDAH continuam a apresentar sintomas na vida adulta, o que evidencia a importância de um acompanhamento contínuo e de intervenções que visem ao bem-estar integral do indivíduo. A construção de um ambiente educacional inclusivo, aliada a práticas de conscientização social, é fundamental para que se possa avançar em direção a uma sociedade mais justa e equilibrada, na qual todos, independentemente de suas particularidades, possam encontrar seu espaço e desenvolver seu potencial ao máximo.
A hiperatividade não deve ser vista como um rótulo limitante, mas como uma característica que, quando compreendida e tratada de forma adequada, permite ao indivíduo alcançar equilíbrio emocional e bem-estar em todas as esferas da vida. Afinal, a diversidade humana é o que enriquece a nossa convivência e nos impulsiona a sermos mais empáticos e inclusivos.
Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV, Aids, Sífilis e Hepatites Virais).