O isolamento social é a principal recomendação das autoridades de saúde a fim de evitar a propagação do coronavírus, causador da Covid-19. A medida, entretanto, impôs às pessoas uma mudança radical no estilo de vida, somando-se à impossibilidade do contato físico o medo de ser contaminado; sentimento que pode desencadear também transtornos à saúde mental do indivíduo, sobretudo aos profissionais da saúde que atuam na linha de frente da assistência.
“Frente a essa nova realidade, o mais assustador nem sempre é saber lidar com a doença, mas com o resultado secundário que ela provoca no imaginário coletivo”, consideram as psicólogas Cláudia Roverone Serrador e Camila Abreu Sartori, idealizadoras do projeto Espaço ComVida instituído e coordenado pelo Nadep (Núcleo de Aprimoramento e Desenvolvimento de Pessoas) da Santa Casa de Piracicaba.
Elas revelam que, frente a situações como esta, os profissionais são rapidamente treinados e municiados com informações atualizadas e oficiais, com recomendações e precauções no manejo dos atendimentos e assistência aos casos suspeitos e confirmados. “Mas será que, além da adequada assistência ao paciente, esses profissionais estão preparados para lidar com as intensas reações emocionais desencadeadas pela pandemia?”, questionam.
Segundo elas, a proposta do Espaço ComVida é intervir e acolher esses profissionais, concedendo a eles cuidado mental e suporte emocional para que possam trabalhar seus medos e ansiedades com o fortalecimento dos recursos de enfrentamento da doença em todos os seus aspectos, conforme prevê a Política Nacional de Humanização.
Os encontros, individuais ou em grupo, acontecem nas dependências do Hospital nos três turnos de trabalho. Os encaminhamentos são feitos pelo Serviço de Medicina do Trabalho, pelas lideranças ou busca espontânea por iniciativa do próprio funcionário. “Nesses três meses de trabalho, acolhemos e orientamos mais de 250 profissionais, favorecendo manifestações emocionais, trocas de experiências e manejo de alterações emocionais reativas presentes na atividade profissional”, disseram as psicólogas.
Elas lembram que todos os funcionários da saúde estão susceptíveis ao coronavírus. “A maior preocupação que eles têm, entretanto, não é consigo mesmo, mas com a possibilidade de contaminação de filhos, família, amigos e parentes. “Alguns têm crianças pequenas em casa, outros têm maridos, esposas, pais, avós e pessoas em grupos de risco e orientá-los sobre a melhor forma de lidar com essa situação pode fazer a diferença na vida desses profissionais”, explicam.
Foi o caso do enfermeiro coordenador da Unidade A, Devandro dos Reis Santos, que valorizou sobretudo a preocupação e compromisso da Santa Casa com seus funcionários. “A iniciativa da Instituição me proporcionou sentimento de segurança e gratidão”, disse. Ele revela que, a princípio, estava inseguro e com medo do que poderia acontecer com os funcionários, sensação que o fez permanecer por 60 dias longe da esposa e da filha, que completou um ano no último dia 26 de junho. “O contato era digital e, por orientação do ComVida, eu dormia abraçado ao travesseiro da minha filha, amenizando um pouco o sofrimento causado pela distância”, disse.
Quem também sentiu na pele os efeitos psicológicos da pandemia foi a enfermeira instrutora de desenvolvimento da Santa Casa, Márcia Cristina Garavazo Dassie. “Procurei pelo Espaço porque estava muito ansiosa e nunca ter sentido isso antes, após tanto tempo trabalhando na área da saúde”, revelou. Márcia conta que saiu renovada e muito mais tranqüila do encontro. “Elas me ensinaram inclusive, a técnica de respiração diafragmática, que tenho utilizado para me sentir melhor”, disse.
Para ela, o trabalho que o espaço ComVida tem desenvolvido está ajudando muito e fazendo a diferença neste momento difícil de incertezas que tem afetado as pessoas fisicamente.