Encontros reuniram participantes de organizações, instituições, poder público e escolas do município; quatro projetos foram selecionados
Mais de 30 representantes da comunidade de Piracicaba participaram nas últimas semanas da jornada formativa do projeto Territórios da Agricultura, implementado de forma gratuita no município para estimular a construção de soluções agroecológicas coletivas para a produção sustentável de alimentos saudáveis. Após a realização de três módulos repletos de informação e reflexão, com encontros sediados na Associação Comunitária, Cultural, Educacional e Política Casa do Hip Hop, foram selecionadas quatro frentes para o trabalho colaborativo: “Mão na Massa. Sementes da Solidariedade”, “Comunicação”, “Tecnologias sociais: Irrigação Horta Urbana ‘La Huertita’” e “Políticas Públicas, Projetos e Iniciativas Sociais”.
A iniciativa é da Evoluir – empresa que gera valor e impacto social por meio de iniciativas educacionais, culturais e socioambientais na perspectiva da Educação Integral – e viabilizada pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura, com patrocínio da John Deere. Participam das atividades em Piracicaba agricultores, professores da rede pública, servidores da Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento – SEMA, conselheiros municipais do CONSEA, lideranças comunitárias, estudantes da Esalq, Fatep e Unesp, representantes dos movimentos, coletivos e projetos de agroecologia Movimento Tô Aqui, Corredor Caipira e Tritura Pira, além do grupo de consumo sustentável Rede Guandu e outros profissionais ligados à agricultura.
“Foi muito gratificante podermos contar com essa adesão da comunidade ao projeto”, conta Mariana Monferdini, coordenadora do projeto na Evoluir. “Nesta jornada, iniciada em maio, formamos o grupo e introduzimos as temáticas centrais. A seguir, mapeamos as habilidades, conhecimentos e recursos que cada participante trouxe consigo, explorando as motivações individuais, discutindo que ações práticas desejavam desenvolver. Foi assim que conseguimos identificar algumas demandas em sinergia e buscar a formação de um coletivo coeso, comprometido com um objetivo comum”.
Aline González, educadora de campo do Territórios da Agricultura em Piracicaba, concorda que, desde o começo, os participantes mostraram grande disposição e abertura para novos conceitos, criando ainda muitas conexões entre si. “Temas como agricultura familiar e urbana e segurança alimentar, abordados no Módulo 2, por exemplo, geraram muito interesse, assim como as atividades práticas do Módulo 3, desenvolvidas com a metodologia da Aprendizagem Baseada em Projetos”, diz. “Com as quatro ações locais já definidas, teremos o quarto módulo no final de agosto , com uma ação prática para fortalecer os projetos escolhidos pelos participantes. O último módulo será em setembro e em novembro realizaremos a exposição aberta ao público, com os registros fotográficos realizados pelo grupo de todo o histórico desses trabalhos”.
“O projeto Territórios da Agricultura é uma iniciativa que visa a integração entre indivíduos com ideais similares: fortalecimento da segurança alimentar e otimização das áreas produtivas do município”, avalia Felipe del Lama, engenheiro agrônomo da SEMA. “Ficamos honrados em poder contribuir com essa iniciativa, a fim de articular as políticas públicas com base em nossos programas. Ao mesmo tempo, também é gratificante constatar o engajamento de cidadãos comprometidos com a qualidade alimentar. A curto prazo, isso permite a propagação de ideias sustentáveis, com base em relatos de experiências bem-sucedidas. A longo prazo, contribui para o aproveitamento de áreas ociosas, de modo que proporcionem saúde e alimentação aos munícipes”.
“A jornada formativa caiu como uma luva, porque no meu bairro existe já há um ano um movimento para a adoção de uma horta comunitária, e o Territórios da Agricultura certamente me permitirá levar os aprendizados que estou tendo para essa ação”, conta Zélia Silva Ribeiro, colaboradora do bairro Santa Fé. “Eu lido com a terra desde criança, mas já aprendi muita coisa no projeto como, por exemplo, que devemos deixar as folhas caídas no campo para maturar e gerar nutrientes para o solo. Tudo o que eu vejo nos módulos, procuro replicar em todos os movimentos que atuo”.
Zélia acredita que os fundamentos passados pelo Territórios da Agricultura terão impactos positivos para um futuro mais sustentável. “Além de aplicar esses saberes hoje, na horta comunitária, estamos vendo também como economizar água e ter maior produtividade, com frutos em abundância. Tudo isso é possível desde que a gente trate a natureza com respeito, como ela merece. Recentemente, tivemos aqui na região uma grande mortandade de peixes, estimada em 6 toneladas, supostamente causada por produto químico descartado de forma indevida no rio, isso não pode mais acontecer. Vemos o que ocorre hoje também na Amazônia. Mas estamos todos aqui com a mão na massa, engajados em fazer um mundo melhor”.
Territórios da Agricultura – O Territórios da Agricultura é um projeto de educação e inovação social voltada à agricultura urbana, periurbana e rural, baseado na participação coletiva e na co-criação de ações que contribuam para o desenvolvimento sistêmico da agricultura e da cultura em determinado território. Prevê a realização de uma jornada que integra os diferentes atores locais, visando a investigação extensiva do ecossistema e a co-criação de soluções que possam fortalecer as práticas de produção de alimentos no território.
Ao longo de 40 horas de formação em cinco módulos, os participantes trabalham capacidades como autogestão, atuação em equipe, liderança, conhecimentos sobre os agro ecossistemas e a cultura do campo, construção coletiva de saberes, mapeamento e diagnóstico territorial, condução de pesquisas coletivas e abordagens para produção fotográfica e audiovisual, registro e sistematização de informações, elaboração de projetos e ações coletivas, entre outros. Desde 2022, já foi realizado em 10 municípios de oito estados do Brasil: Amazonas, Bahia, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo.
O Territórios da Agricultura está alinhado a oito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) na Agenda 2030 da ONU: erradicação da pobreza (1), fome zero e agricultura sustentável (2), saúde e bem-estar (3), educação de qualidade (4), trabalho decente e crescimento econômico (8), cidades e comunidades sustentáveis (11), consumo e produção responsáveis (12) e parcerias e meios de implementação (17).