Tássia Espego
Estar diante de um momento de crise, que gerou impacto até mesmo internacional, nos faz repensar e questionar muita coisa, principalmente sobre quais atitudes e escolhas tomar. O momento ao qual me refiro é o desastre ambiental no rio Piracicaba, que recebeu resíduos industriais, resultando na mortandade de milhares de peixes. À frente da Defesa Civil do município, enquanto secretária de Governo da gestão do prefeito Luciano Almeida, me deparei com uma situação inédita, triste, a qual demandava uma ação imediata.
Assim que a mancha de contaminação chegou ao Tanquã, o mini-pantanal paulista, a situação se transformou em uma realidade caótica: não apenas a natureza sofria, mas todos aqueles que dali tiram a sua subsistência.
Tudo teve início no dia 7/7, quando os resíduos foram despejados no ribeirão Tijuco Preto, que deságua no Piracicaba. Assim que os resíduos chegaram ao nosso manancial, imediatamente foi constatada a irregularidade, graças à estação de monitoramento do Semae. Prontamente, a Prefeitura, por meio da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, acionou a Cetesb – responsável pelo monitoramento – que colheu amostras das águas e constatou a contaminação.
Logo os peixes começaram a submergir. E então, uma força-tarefa, composta pela Prefeitura, Polícia Militar Ambiental, associações e entidades que amam o nosso rio, deram início à primeira etapa da recolha dos peixes mortos na altura da Rua do Porto.
Foram quase 3 toneladas recolhidas e mal sabíamos que o pior ainda estava por vir: alguns dias depois, os resíduos atingiram o Tanquã, e o impacto foi devastador.
Nossa equipe se deslocou imediatamente para lá e ver ao vivo, in loco, as massas de peixes mortos, trouxe um sentimento de muita tristeza. Ver as fotos e os vídeos já foi impactante, mas presencialmente chega a ser inexplicável.
A natureza estava em luto. As aves, algumas raras, não cantavam, não desciam até a água para se alimentar, apenas observavam caladas do alto das árvores.
E foi ali, diante desse cenário de luto, que estabelecemos nossa segunda casa durante uma semana inteira e ininterrupta. Ali encontramos tristeza, mas também força, pessoas parceiras e muita resiliência. A força-tarefa criada pela Prefeitura de Piracicaba contava com secretarias municipais, empresas e todo o povo ribeirinho que, de coração aberto, se dispôs a ajudar.
Eu teria tanta coisa para contar sobre esses sete dias, muito intensos, da operação Pindi-Pirá… Aprendizado, experiência, diversas dificuldades. Mas para ser breve vou definir tudo isso em uma só palavra: resiliência. Ao me deparar com a real situação, me fortaleci na resiliência, porque sabia que precisaríamos resolver e reverter aquele cenário com calma e sabedoria.
Resiliência da natureza, que, mesmo agredida, maltratada e vítima da inconsequência dos atos humanos, se fez e se faz forte para retomar a sua forma original.
Resiliência de toda a equipe que esteve envolvida diretamente nessa força-tarefa, pois, em tão pouco tempo, nos adaptamos a todas as adversidades de uma operação inédita, e encontramos formas para mitigar os danos desse enorme desastre ambiental.
Resiliência dos ribeirinhos, dos pescadores, em especial do pescador Paraná que, diante de uma das situações mais difíceis da sua vida, acolheu a todos com carinho e respeito, abrindo as portas da sua casa que, da noite para o dia, se tornou a base de toda essa operação.
Se no dicionário o significado da palavra resiliência é adaptar-se a situações difíceis, nesses sete dias nós cumprimos fielmente o significado da palavra.
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Tássia Espego, secretária de Governo de Piracicaba