Lixo dá dinheiro

José Renato Nalini

 

Mas não no Brasil. Aqui, só dá dinheiro para as empresas que se encarregam de varrição das ruas e da coleta da extraordinária produção de resíduos sólidos de uma sociedade que desperdiça. Esse um dos maiores problemas dos municípios, que não têm toda a competência para disciplinar os transportes e cuidar inteiramente da energia.

Aqui, ainda é tímida a exploração do biometano, uma formidável promessa no capítulo da transição energético. Ele é produzido a partir da purificação do biogás extraído do lixo, de restos agropecuários e até de esgoto.

O CEO do Grupo Urca, Marcel Jorand, foi entrevistado por Alexa Salomão (FSP, 21.4.2024) e conta que a empresa é líder no mercado brasileiro de biometano. A fábrica em Seropédica recebe lixo do Rio e é a maior produtora desse gás na América Latina. O biometano é um substituto do gás natural e tem a grande vantagem de ser renovável. Além de representar uma solução de energia limpa e ajudar na tantas vezes adiada transição energética, mostra o valor de quem cuida dos resíduos de forma adequada. A minoria dos brasileiros.

Ele custa de 25% a 30% a mais do que o gás natural. Só que tem a vantagem do atributo ambiental: evita a pegada de carbono e alavanca a meta da descarbonização. Finalmente o governo percebeu que ele é mais barato que o diesel e sem a oscilação cambial. Sua produção gera investimento, emprego e renda para o Brasil. Não depende de guerras, nem sofre bruscas variações em virtude da situação internacional.

Todas as empresas precisam atender ao chamado escopo 3, categoria de emissões para operações comerciais prevista no protocolo que contabiliza gases de efeito estufa para promover sua redução. Toda empresa emite fora de sua sede. O grande vilão é o transporte. Pois os caminhões pesados ainda preferem o venenoso diesel. Mas se ele for substituído pelo biometano, a pegada de carbono passa a ser negativa. Quando se troca diesel por biometano, há uma redução de 91% nas emissões dos gases causadores do efeito estufa.

A Abiogás, associação brasileira de produtores de biogás, realizou um estudo para comprovar que o Brasil tem potencial de produzir 120 milhões de metros cúbicos por dia de biometano, entre o agro e os aterros. Só que isso está longe de ser realidade. Hoje a produção chega a pouco mais de quinhentos mil metros cúbicos. O que está faltando para alavancar esse negócio?

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José Renato Nalini, Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo

 

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