Camilo Irineu Quartarollo
São notórios os casos de meninos atiradores nos EUA, os quais se postam nas escolas para atentados contra colegas e professores. Trump é vítima, em grande medida, de seu discurso às armas.
O jovem Thomas Crooks seria mais um atirador, o qual sabe que se puxar o gatilho vai ser morto, ou ele mesmo se suicida com a arma ganha do pai num aniversário – fim de jogo. Entretanto, meu Deus, não é um jogo, nem tampouco a violência é uma boa política. Assim são a maioria dos casos. Um atirador mirim pode ser o menino tímido que sofre bullying social ou na família, mas compensa o próprio ego num ato extremo diante do público, da menina que o infeliz corteja secretamente.
Esse atirador solitário de vinte anos conseguiu atrair a fama por alguns minutos terríveis na Pensilvânia. O fuzil AR-15 é um troféu do matador, arma de guerra, dos filmes e joguinhos de heróis, cheios de ação, em tese restritos à “caverna” do adolescente. Presa fácil a ideologias entusiastas. Psicopatia letal. A política devia se contrapor, trabalhar pelo desarme.
O país do tio Sam está inflamado, a propaganda ao uso de armas como símbolo de patriotismo – e Trump reforça isso. Vendem-se armas para crianças. Presenteiam-nas! O jovem atirador do atentado a Trump não era chicano, venezuelano, salvadorenho ou brasileiro nem do partido democrata era.
Depois do atentado, Trump quis se levantar como presidente ungido, num discurso supremacista. Voltou a lançar maldições como um predestinado ileso. Seu alvo discursivo são os de sempre, os imigrantes latino-americanos, os quais teriam ido à América cometer crimes. Uma falácia xenofóbica. Sua proposta de governo é deportação em massa de milhões de imigrantes que servem de mão de obra barata, aos quais chama de criminosos! Com certeza nem brasileiros escaparão dessa pecha. É falso que os latinos pobres são bandidos por mera procedência ou condição econômica – isso pega no senso comum distraído.
Diz que os problemas vêm de fora, mas foi alvejado por um inimigo interno, o qual nem a segurança detectou.
Esse ódio supremacista não é de hoje, mesmo a conquista do território norte-americano foi por armas, por massacres aos povos originários, e até hoje a cultura armamentista prevalece incrementada pela ideologia direitista. A “democracia do Trump” é um muro alto para separar os Estados Unidos dos debaixo, dos latino-americanos.
O quase presidente Trump reapareceu com um tampão branco na orelha, bem visível para expor sua versão de vítima renhida na convenção partidária, mas nenhuma discussão quanto à proliferação de armas entre a população civil, nem sobre as causas da violência juvenil ligada às armas.
Nas redes sociais e tevês também a versão heroica, divulgada à exaustão, mas não vimos a discussão sobre armas letais em mãos de crianças e jovens!
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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, cronista, editor de livros digitais e físicos, e autor do livro Contos inacreditáveis da Vida adulta