Plinio Montagner
Contrastes e opostos nos ajudam muito na hora de distinguir uma coisa de outra, um fato, um sentimento, um objeto, enfim, o que nos rodeia.
Sendo assim, uma obra só pode ser considerada bonita ou feia se foi comparada a outras, pois o “feio” nunca seria feio se o “belo” não existisse, e vice-versa. Tudo se distingue no confronto.
Para Platão (428-347 a.C.), a consciência do desigual está ao alcance do entendimento humano pelo contraste. Em sua parábola – O Mito da Caverna – os homens só conheceram a luz do sol quando romperam suas correntes e saíram da caverna, fato que antes era impensável, senão ficção.
O conceito do “’belo” se forma depois de apresentado ao “feio”, contemplados um ao lado do outro. É o surrealismo na arte em que cada apreciador enxerga o seu belo e o seu feio a sua maneira.
Dessa maneira outros conceitos se formaram pelos seus opostos: o alto, o baixo, o maior, o menor, o grande, o pequeno, o longo, o curto, a alegria, a tristeza, o bem, o mal, o ódio, o amor, etc.
As pessoas estão acostumadas a valorizar e a desdenhar tudo pela ausência e pela falta. Exemplos, a presença é sentida pela ausência, o alimento pela fome, o ter quando se perde, da liberdade pelo aprisionamento, a alegria na presença da dor, a luz pela escuridão, e assim vai.
Algumas diferenças são difíceis de serem observadas quando não colocadas em evidência. Há um abismo entre prometer e fazer, desejar e conquistar, da realidade e da ficção, etc. A propósito, realidade e ficção se parecem, estão próximas, mas são diferentes, não se misturam. A ficção é uma projeção da realidade, só isso, um produto da imaginação, do fantasmagórico.
As exceções e as incertezas sobre o tema provêm de várias fontes: da ciência, do universo cinematográfico, dos mistérios, das alucinações, da literatura, neste caso, pelas obras do francês Julio Verne (1828 – 1905), em que fatos impossíveis se tornaram realidades.
Nos relacionamentos entre as pessoas ocorre a mesma coisa. Se os pares aceitam os desaconchegos porque foram envolvidos e motivados pelo coração. São nesses momentos que a dor e o prazer e o bem o mal se misturam e se confundem. Não basta conhecer as diferenças, é preciso preparo para conviver com elas.
Com o passar do tempo diferenças platônicas não se evidenciam entre os iguais, mas se caracterizam entre os diferentes, quando as aparências e as divergências ocultas escapam e se revelam. Então o belo se denegre, o diabo aparece, e o que era bom se torna mau.
Quem ama de verdade quer estar sempre junto, ou por perto do outro. Não é verdade que os opostos se atraem. As afeições sinceras não se satisfazem com o superficial, nem toleram a traição. Quem quer a gente, liga, não tem desculpa. Manda chocolates. Aparece. Acompanha. Se não for assim é sinal de desarmonia, e o pior, o início do fim da relação.
Uma afinidade saudável não combina com egoísmo e indiferença. Se o outro não deseja sair junto, o motivo é só um: é porque ele (ou ela) não está tão afim de você.
Pessoas de vibes diferentes geralmente não se dão bem, um dia alguém vai mostrar sua cara; e daí, sempre um vai sair perdendo e sempre um vai chorar. A vida é um aprendizado. Um dia pode chegar a hora de fazer valer mais o amor próprio e deixar ir quem subestima a união. Quando um não ama, qualquer nevoeiro, qualquer chuvinha, friozinho ou calor são motivos para não ir junto, não dançar, não viajar.
É fatal, com o passar do tempo a vivacidade afrouxa e os dedos não mais se entrelaçam. Pode acontecer. Faz parte! Mas o amor perdura.
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Plinio Montagner, professor aposentado