A demolição do Comurba e o Sr. Lazinho Capellari        

Antonio José Lásaro Aprilanti

 

O prefeito Cassio Padovani tinha um fiel escudeiro na figura do seu particular amigo Lazinho Capellari, homem da política, ex-prefeito de São Pedro, sujeito decidido e “pau pra qualquer obra”. Cheguei a trabalhar com ele no Departamento de Planejamento na Coordenadoria de Obras do Município sob sua chefia, junto a outros engenheiros que exerciam diversas atividades, uns em obras públicas outros em obras particulares para análise e aprovação de projetos, todos reunidos em uma única sala existente no prédio antigo conhecido como Palacete do Barão de Serra Negra, na época parcialmente demolido, localizado onde hoje é o estacionamento da Câmara Municipal – esquina da Rua São José com Rua Alferes José Caetano.

Esse prédio, que tinha seu aceso principal na frente para a Rua São José através de uma escadaria larga, dava acesso a um salão principal que abrigava, atrás de um longo balcão, diversos setores da administração pública como administração, finanças, contadoria, atendimento ao público, e outras. Do lado esquerdo da entrada principal ficava o gabinete do prefeito, sala de espera e de assessores; mais ao fundo, num salão, a Coordenadoria de Obras, onde, bem ao centro, ficava a mesa do Sr. Lazinho, que, à época, também ocupava a presidência do Semae – Serviço Municipal de Água e Esgoto. Nas laterais da sala ficavam as mesas dos engenheiros e outros funcionários das obras.

Nessa época estava ainda em pé o esqueleto do prédio Comurba, ou melhor, a parte que restou da estrutura após a queda parcial do edifício em 06/11/1964. Para quem não se lembra, esse edifício ficava onde hoje está o Poupatempo. Esse desastre representou um trauma muito grande para a cidade e sua demolição era uma tarefa desafiadora, muitos se propuseram, mas não acharam a solução. Havia um problema maior uma vez que o que restou do imóvel tinha donos. O prefeito Cassio Padovani, homem respeitado e de bons tratos, trabalhou e conseguiu a concordância e anuência de todos os proprietários e credores que abriram mãos de seus direitos em nome do bem maior, conseguir a demolição e livrar a cidade daquele fantasma. O prefeito Cassio iria faze-lo e o Lazinho, homem decidido, afirmou deixa comigo.  Passado algum tempo no aguardo de tão esperada solução, aconteceu que um conhecido jornalista — se não me engano o Tuca — deu uma cutucada através de um artigo no jornal, indagando: cai o Comurba ou cai o secretário?

O Lazinho “mordeu a chumbada” como se diz por aqui, chamou a mim e ao engenheiro João Flávio Ferro e disse: vamos dar uma olhada nesse prédio, nós vamos demoli-lo. Passamos no gabinete do prefeito para comunicar que estávamos indo ao prédio para ver como fazer o trabalho que seria iniciado logo.

Subimos a pé pela escada até a última laje para ter uma ideia do trabalho a ser desenvolvido e ficou acertado o início da demolição dentro de alguns dias. O material da demolição seria lançado no terreno ao lado, na parte do prédio que ruiu para depois ser removido. Foi definida uma equipe de funcionários da prefeitura chefiada por um encarregado cujo nome era Jordão, ficando como responsável técnico pela demolição perante o Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), o engenheiro João Ferro.

No decorrer da obra aconteceu um acidente, uma coluna dos últimos andares, que tinha o formato cilíndrico, foi rolada e ao invés de cair no terreno caiu na rua causando um afundamento considerável. Por sorte, não atingiu nada que pudesse causar maiores problemas, mas o responsável resolveu mandar o encarregado embora por não ter tomado os cuidados que o serviço exigia.

O Sr. Lazinho, autoritário como ele só, desautorizou Ferro e disse que quem mandava lá era ele e que o engenheiro não era mais responsável e não trabalharia mais com ele. Nesse dia, depois do expediente, como era de costume, nos encontramos para um papo e umas cervejas e o Ferro disse que não sabia o que fazer, pois o Lazinho disse que não trabalhava mais com ele. Entendemos que ele não tinha sido dispensado formalmente e deveria comparecer ao trabalho normalmente no dia seguinte e ver o que aconteceria. Nós já estávamos na sala, o seu Lazinho ao fundo na mesa dele e o engenheiro João Ferro entrou na sala pela porta principal que ficava bem no centro. O seu Lazinho se levantou e perguntou o que ele estava fazendo lá ao que ele afirmou: eu trabalho aqui e até agora não fui desligado. Isso deu início a um bate-boca com o Lazinho dizendo que ele se retirasse e fez gesto de abaixar para pegar sua inseparável pasta, que, segundo a lenda, carregava sempre um revólver. O João Ferro o desafiou dizendo em alto e bom som: “tire essa merda que eu mijo no cano”. A partir daí o ambiente ficou tumultuado, os amigos retirando o João Ferro e a confusão ficou generalizada, sendo que até o prefeito Cassio apareceu perguntando o que havia ocorrido, conversando comigo relatei o ocorrido e a causa. Para finalizar essa ocorrência, sei que o João Ferro entrou com ação contra a prefeitura o que me levou a pedir demissão.

O Dr. Cassio me chamou pediu que eu reconsiderasse, mas disse que defendia a posição do João Ferro e seria sua testemunha na ação uma vez que ele, como responsável técnico, tinha razão sobre o ocorrido. Assim, terminou minha primeira e única passagem pela prefeitura como contratado pela CLT com carteira assinada, demissionário em 18 de fevereiro de 1972. O prefeito Cassio Padovani veio a falecer, logo depois, em 07 de março de 1.972.

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Antonio José Lásaro Aprilanti, arquiteto e urbanista

 

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