Alvaro Vargas
Na análise do Cristianismo, devemos considerar as suas raízes no judaísmo. Para os judeus, o que está escrito na Torá não é para ser discutido, mas seguido. Uma fé cega, na qual não se questiona a racionalidade e nem mesmo a lógica das mensagens transcritas em seu livro sagrado. Isso esclarece, parcialmente, as razões para os conflitos existentes no Oriente Médio. Um embate entre os judeus e os fiéis de outra religião, o Islamismo, baseada no Alcorão do profeta Maomé, onde alguns seguidores praticam uma fé fanatizada. A Bíblia contempla o Velho Testamento baseado na Torá, e no Novo Testamento revelado a partir do advento da Boa Nova com Jesus de Nazaré. Com relação ao Velho Testamento, existem descrições que incentivam guerras e genocídios, que em nenhuma hipótese poderiam ser consideradas de origem divina. Conforme J. Herculano Pires (Visão Espírita da Bíblia. Coisas terríveis e ingênuas figuram nos livros bíblicos), “devemos respeitar a Bíblia no seu exato valor, mas nunca fazer dela um mito, um novo bezerro de ouro. Deus não ditou nem dita livros aos homens”. Porém, as religiões institucionalizadas consideram a Bíblia como a “palavra de Deus”, da mesma forma que os judeus consideram a Torá, quando deveriam estar cientes de que os profetas eram médiuns, homens comuns e falíveis, que apenas transmitiram as mensagens de seus guias espirituais, captadas conforme o seu nível intelecto moral.
A reencarnação, também conhecida como palingenesia ou transmigração da alma, é aceita pelo judaísmo, fazendo parte da crença dos cristãos até o início do século IV de nossa era, quando o Cristianismo passou a sofrer a influência do politeísmo romano. Segundo o Espírito Emmanuel (XAVIER. F. C. A Caminho da Luz, cap. 16), “herdando os costumes romanos e suas disposições multisseculares, a igreja de Roma modificou as tradições puramente cristãs, adaptando textos, improvisando novidades injustificáveis e organizando, finalmente, o Catolicismo sobre os escombros da doutrina deturpada”. As adulterações da Bíblia visando atender aos interesses da Igreja, com certeza contribuíram para gerar dúvidas acerca da reencarnação, com reflexos até os dias atuais. Além disso, as traduções apresentadas pelas igrejas tradicionais apresentam claras distorções em relação aos textos originais (SILVA, S. C. Analisando as traduções bíblicas). Infelizmente, as religiões institucionalizadas embora tenham o mérito da divulgação do Cristianismo, não realizaram uma análise crítica e racional das mensagens bíblicas, conforme a evolução da sociedade, mantendo a interpretação apenas no seu sentido literal, numa crença fanatizada, que incluiu ainda rituais e dogmas religiosos insensatos e sem base científica.
O dogma da reencarnação na igreja católica romana foi discutido durante o 2º Concílio de Constantinopla, em 553 d.C., sendo abolida de forma indireta ao negar a doutrina da preexistência da alma. O principal motivo para este concílio foi uma decisão do imperador Justiniano visando atender a sua esposa Teodora, que, no leito de morte, pediu a exclusão da reencarnação da teologia cristã. Ela havia condenado à morte as suas antigas colegas de profissão, meretrizes, por divulgar o seu passado. O povo de Constantinopla, revoltado contra essa injustiça, dizia que Teodora teria de reencarnar diversas vezes para expiar a sua falta, o que ela não desejava. Foi um equívoco, pois, a reencarnação, já comprovada cientificamente, é um norteador dos princípios da Justiça Divina, permitindo ao homem regressar em nova experiência na Terra para realizar as devidas reparações de seus equívocos. Consola, ao esclarecer que o sofrimento e as diferenças existentes entre os homens podem ter as suas raízes nas existências pregressas. Deus é justo e imparcial. Colhemos o que plantamos.
Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante espírita