Respondendo objetivamente a duas questões subjetivas

Armando Alexandre dos Santos

 

Tratei, no meu último artigo, de dois métodos que podem servir ao estudioso das Ciências Humanas em geral, e da História em particular: o método quantitativo e o método qualitativo. Neste último, podem muitas vezes desempenhar algum papel (e até mesmo papel importante) elementos subjetivos que um pesquisador quantitativo provavelmente desprezaria a priori, tais como a intuição, o “feeling”, o “faro”, o “sexto sentido”.

Julgava ter sido suficientemente claro na minha exposição, mas ela causou estranheza em uma amiga muito dileta, que me perguntou como pode um historiador ser ajudado pela imaginação, já que a imaginação parece em contradição com a pesquisa científica séria.

Respondo a ela que a imaginação é um recurso inato do espírito humano que lhe permite desenvolver a criatividade, permite ver problemas novos e atinar com soluções para eles, permite, mesmo na pesquisa, intuições muito úteis e formulação de hipóteses indispensáveis para o progresso dos estudos.

Não há, pois, contradição entre um uso razoável da imaginação e a prática científica, desde que o pesquisador não se entregue à imaginação loucamente, sem bom senso. Ele tem que conhecer as potencialidades, mas também as limitações e riscos da sua imaginação.

Essa mesma amiga me perguntou como faço para estudar e memorizar matérias novas, que ainda não domino.

Trata-se de algo muito pessoal, naturalmente. Já que ela perguntou meu método, responderei.

Quando se trata de algum assunto novo, não conhecido, e que há necessidade de aprender bem, tenho o costume de pegar alguma obra básica e de iniciação sobre ele (do gênero “Primeiros Passos”, “O que é”, “Que sais-je?”…,) e estudar detidamente, com toda a atenção, esquematizando, anotando, transcrevendo, fazendo fichas, de modo a guardar bem na memória.

Isso faz com que se acabe formando, na minha mente, um quadro geral do assunto.
Depois, outras leituras e outras pesquisas vão completando esse quadro, vão fazendo com que ele seja modificado em um ponto ou em outro, etc. etc. À medida que vou dominando o assunto, as leituras se tornam naturalmente mais rápidas e mais objetivas, porque já vou percebendo desde logo o que é novo, já vou ficando mais seletivo e exigente.

Durante esse processo, sempre que possível, já vou escrevendo em arquivos à parte, e com minhas próprias palavras, comentários, observações, críticas, sínteses etc. etc. É uma produção paralela que pode parecer perda de tempo, mas não é. Quando chegar a hora de redigir algo de mais fôlego sobre o tema, são essas notas marginais e muitas vezes esquecidas que fornecem a melhor matéria prima.

É assim que procedo, mas admito que se trata de algo muito pessoal, pode ser que o mesmo método não convenha a outras pessoas.

É um método muito adequado ao meu espírito, que de certo ponto de vista é mais platônico do que aristotélico. Em outras palavras, sou mais afeiçoado a formar primeiro as visões gerais e somente depois descer, dedutivamente, para as particularidades e as especificidades. Outra pessoa poderá preferir seguir o caminho oposto, partindo dos casos concretos para ir, lentamente, elaborando pelo método indutivo as visões gerais.

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