As tragédias amorosas podem provocar uma obsessão espiritual por justa causa?

Alvaro Vargas

Embora Deus nos tenha concedido o livre arbítrio, somos responsáveis pelas nossas ações. Ao regressarmos para o mundo espiritual, tomamos consciência do nosso planejamento reencarnatório, compreendendo que as experiências na Terra fazem parte do nosso aperfeiçoamento moral e intelectual. Entretanto, dependendo do nível evolutivo, a alma pode refutar a opção se elevar aos planos espirituais superiores, permanecendo junto daqueles com os quais manteve alguma ligação aqui na Terra, inclusive, obsediando os seus antigos desafetos. Segundo o médium Chico Xavier (BACELLI, A. C. O Evangelho de Chico Xavier, ítem-192), “os casos de obsessão mais terríveis, são os de amor enlouquecido, ou seja, os da paixão exacerbada. São os obsessores mais difíceis de ceder. Não são os que perturbam por disputas religiosas, por serem rivais ou por guardarem certos ressentimentos. Os Espíritos obsessores mais ferrenhos são os que foram feridos em seus próprios sentimentos, este, por assim dizer, ganham o direito de perturbar. Os Espíritos amigos costumam se referir a estes casos como obsessão por justa causa. Obsessor e obsediado estão tão interligados, que têm que resolver por si mesmos. Os Espíritos amigos interferem, mas não decidem”.

Nesse aspecto, o Espírito André Luiz (XAVIER, F. C. Nos domínios da mediunidade, cap. 9), esclarece que devemos estar conscientes que ninguém ilude a justiça divina e as reparações podem ser transferidas no tempo, mas sempre são fatais. Ele descreve o caso de um jovem que estava sofrendo um processo obsessivo. Devido a sua mediunidade de provação, desligava-se, parcialmente, com certa facilidade do corpo físico, se engalfinhando em luta feroz contra o obsessor. A origem do problema estava relacionada com a sua existência passada. Na época, era médico, e seduziu a esposa do seu irmão. Para ficar com a mulher, provocou a falência financeira do irmão e o internou em um manicômio, onde ele faleceu. Contudo, no mundo espiritual, desvairando-se em ódio passou a obsediar o casal. Com o objetivo de redimi-los, os mentores espirituais organizaram o retorno da mulher, menos culpada, que recebeu o médico delinquente em seus braços como filho, purificando o amor de sua alma. O irmão atraiçoado de outro tempo, todavia, ainda não havia encontrado forças para modificar-se, continuando a vampirizar o antigo médico, devido a sua obstinação no ódio.

Entretanto, nem sempre uma tragédia amorosa resulta em um processo obsessivo. Segundo o Espírito André Luiz (XAVIER, F. C. Missionários da Luz, cap. 12), o Espírito Segismundo buscava reencarnar na Terra e encontrava dificuldades, tendo solicitado ajuda aos benfeitores espirituais. Durante a sua estadia na erraticidade, ele havia se arrependido dos seus equívocos e colaborado arduamente nas tarefas assistências às almas enfermas que regressam à verdadeira pátria, acumulando créditos para uma maior assistência em sua reencarnação. Na sua existência pregressa, havia seduzido Raquel, uma mulher que estava casada com Adelino, assassinado por ele. Foi um episódio lamentável, pois, Raquel terminou a sua existência em um prostíbulo. Todos os três desencarnaram sob intensa vibração de ódio e desesperação, padecendo vários anos nas zonas inferiores do mundo espiritual. Mas, diferentemente do episódio citado anteriormente, eles foram capazes de superar as suas animosidades. Esclarecidos pelos mentores da necessidade reencarnatória, os antigos cônjuges obtiveram a volta ao corpo físico, a fim de santificarem os laços sentimentais e permitir a reaproximação com Segismundo. Graças à intercessão dos amigos espirituais, Segismundo e Adelino se encontraram no mundo invisível, e este aceitou o pedido de perdão do seu antigo desafeto, permitindo a sua reencarnação como filho naquele núcleo familiar.

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D, presidente da USE-Piracicaba, palestrante espírita

 

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