Nos 123 anos do Treze de Maio, entidade e sociedade se mobilizam

São 123 anos de história, com um legado fundamental em favor de Piracicaba

Revitalização do Clube visa novos sócios e patrocinadores abnegados pelo legado histórico do terceiro clube de negros mais antigo do País

 

 

Ao completar 123 anos de história e resistência em Piracicaba, a Sociedade Beneficente Treze de Maio também conclama a população em geral, especialmente o povo negro em reflexões sobre os 136 anos do fim da escravidão no Brasil, Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel. Além de reflexões sobre a importância de revitalização do Clube e apoio da iniciativa privada, bem como o poder público, na continuidade deste marco referencial, considerado o terceiro clube de negros mais antigos do País, suplantado apenas por Jundiaí, no Estado de São Paulo (Clube 28 de Setembro, 1895), e em Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul (Sociedade Floresta, 1872).

 

LEGADO

A Sociedade Beneficente 13 de Maio é um clube social destinado aos afrodescendentes brasileiros, fundado em 1901 na cidade de Piracicaba (Estado de São Paulo), inicialmente denominada como Sociedade Beneficente Antonio Bento e renomeada em 1948. Entre o final do século XIX e início do século XX, houve um movimento clubista destinado a criar clubes exclusivos para sócios negros com o objetivo de se tornarem locais de lazer para os afrodescendentes, pois estas pessoas eram excluídas de qualquer vida social em sua época. Além das atividades sociais, o Clube 13 de Maio proporcionava apoio funerário, de saúde, entre outras atividades.

O prédio da sede do clube é tombado pela Codepac como Patrimônio Histórico e Cultural de Piracicaba e em 2014 o clube entrou no processo para tombamento como Patrimônio Histórico do Estado de São Paulo.

A história do Clube está cheia de personagens que misturam sua própria força e persistência ao desenvolvimento da própria raça, a exemplo de figuras como Benedito José Anastácio — que aparece nesta foto antiga acima — presidente do clube à época em que sua sede foi construída, ou, então, o popular Zuza, que, com seu futebol e os times de pretos e brancos, misturou música e esportes numa fusão que marcou época em toda a região.

Segundo pesquisadores, na verdade, a história da Sociedade Beneficente 13 de Maio começa com a criação, em 1901, da Sociedade Antonio Bento, em homenagem ao abolicionista Antonio Bento de Souza e Castro. Era um grupo de apenas 31 pessoas, que reuniu-se tendo como objetivo “organizar uma sociedade para o fim especial de se comemorar condignamente o 13 de maio”. O que ocorria era que, até então, a sociedade local branca marginalizava qualquer comemoração negra que tentasse lembrar o 13 de Maio, que passava, até então, como uma data sem maior expressão, após a lei Áurea, em 1888.

Ocorre, entretanto, que a sociedade recém-criada exigia de seus sócios o pagamento de uma mensalidade de dois mil réis (R$ 246,00) no ato da inscrição e mais um mil réis nos meses seguintes (R$ 123,00), o que, de imediato, se constituiu em empecilho para seu crescimento. E mais: a ela caberia integrar-se a outras iniciativas de sociedades brancas, como a colaboração financeira para a reforma do Teatro Santo Estêvão, o que acabou por fazer com que seus objetivos e características iniciais tivessem que se alterar.

 

FUNDAÇÃO OFICIAL

Assim, em 1908, a Sociedade Antonio Bento toma outro caráter, passando estatutariamente a se constituir em “Sociedade Beneficente 13 de Maio”, com a finalidade de prestação de serviços médicos, farmacêuticos, jurídicos e educacionais aos seus associados. Finalidades que ficam apenas nos registros formais, conforme constatam as pesquisas, já que, na verdade, ela permanece fiel à proposta primeira de comemorar de forma efetiva o 13 de Maio e reforçar as próprias tradições negras.

Mas, as dificuldades continuaram a acontecer até 1921, já que, entre os associados, as diferentes concepções da própria razão de ser da sociedade acabaram por fazer aflorar rivalidades: seria uma associação apenas de negros? Admitiria mulatos? Aceitaria a todos, independentemente de seu status social?.

Mas, foi só em 1921, já diante do desafio efetivo de construção de uma sede, que a entidade começou a tomar forma. E isto aconteceu especialmente através da liderança de Benedito José Anastácio, um jovem de apenas 20 anos que, em 1934, já passava a dirigir a instituição que o teria como presidente por nada menos que 23 anos.

Foi em sua gestão que a sociedade teve uma escola de música e até um grêmio de jazz band; até mesmo um curso para alfabetização de adultos desempenhou seu papel por mais de 15 anos. E, segundo alguns historiadores, a exemplo do saudoso João Chiarini, o Treze de Maio abrigou o primeiro curso para alfabetização de adultos em Piracicaba.

Sua marca maior, entretanto, se constituiu na construção da sede, na rua 13 de Maio, 1118, onde a entidade está instalada até nos dias atuais. Em 1943, Anastácio conseguiu a parceria fundamental do professor Silvio de Aguiar Souza que tomou para si a tarefa de também trabalhar para obter recursos para estruturar o Clube. Com sua influência, ele garantiu que Archimedes Dutra fizesse a planta da obra, levantou a quantia necessária para saldar a hipoteca existente sobre o terreno e, através do então interventor Fernando Febeliano da Costa, obteve os recursos iniciais para a construção.

Também foi desencadeado na cidade uma campanha para doação de tijolos, abraçada por Lino Morganti, proprietário da Usina Monte Alegre; do madeiramento do prédio pelo gerente do Engenho Central e, de doações em dinheiro por empresários e políticos. Foi do esforço das mãos da própria comunidade negra, sob a orientação dos engenheiros José Benedito de Camargo e Eduardo Khiel, que a construção subiu, ganhou forma e deu, inclusive, outras dimensões ao próprio “13”.

 

SAGA

Mas, se, de um lado, o palpável que se edificava através da construção de uma sede dava maior união aos negros, por outro lado, nunca foi esquecido o espírito lúdico e esportivo da raça. A festa para escolha da rainha e princesas se constituiu em tradição ainda maior do que as que oficialmente se punham nos calendários, dando início a um baile quase que de gala, anualmente.

As festas populares sempre trouxeram, inclusive, participantes regionais para as manifestações do tambu, do batuque e do samba. Também o Carnaval teve o seu ambiente de festas pelos negros, com cordões onde apenas eles desfilavam. Nos anos 40, o “13 de Maio” tinha uma escola enorme, que recebia até mesmo visitantes de São Paulo para nela desfilarem.

Mas, nem só música faz parte da história do “13”. Há que se lembrar também dos históricos jogos de futebol entre times exclusivamente de brancos contra negros, noticiados em manchetes nos jornais locais. Especialmente nas décadas de 30 e 60, onde oficializaram-se, pelo menos, dois times negros: o “28 de Setembro Futebol Clube”, em 1930, e o “Madureira Futebol Clube”, na década de 50, este ligado diretamente ao 13 de Maio e formado por seus associados. Entre os grandes craques, Belarba, o rei do carnaval, que, nas quadras, se desenvolvia como centro-avante.

Na trajetória histórica do Clube também aparece a existência de dois jornais dirigidos diretamente à comunidade negra, mas sem qualquer vínculo maior com ela, surgindo – e também certamente por isso, de vida curta – e desaparecendo rapidamente, pelo idealismo e esforço individual de alguns de seus membros. “O Patrocínio” viveu entre 1928 e 1930; “Nosso Jornal” foi editado de 1958 a 1961 por Luiz Carlos e Benedito de Barros.

Em 1958, ao chegar aos seus 50 anos, a sociedade pôde inaugurar uma escultura da Princesa Izabel, feita pelo artista Luiz Marroni, a partir de doações de empresários e intelectuais da terra – os documentos apontam como principais doadores as indústrias Dedini, o ex-prefeito Luciano Guidotti e a Mausa. Em 1983, o destaque ficou com a presença da orquestra de Sylvio Mazzuca, por abrilhantar o baile do dia 13.

Contemporaneidade

A história do “13” continua até hoje, mas, a sua luta e suas tradições são tão fundamentais no próprio recontar da história da comunidade negra. Também nos dias atuais, a Entidade se encontra no limiar de uma nova fase, onde o prédio antigo requer projetos de reformas, que ao mesmo tempo respeitam os limites impostos pelo tombamento da fachada, bem como deve receber melhoramentos que contemplem as exigências de alvarás de funcionamento perante o Corpo de Bombeiros, normas habitacionais da Prefeitura e garantias de acessibilidade do local, dentre outras medidas.

Assim, os órgãos diretivos da entidade, iniciando pelo Conselho Deliberativo e Diretoria Executiva e, na expectativa dos inúmeros sócios que devem reforçar o legado histórico do Clube, acompanhado pelo interesse da população em geral, partem para uma ampla campanha perante a sociedade civil organizada, além de recorrer a grupos empresariais e organizações e respaldo do poder público, com o objetivo de aquisição de recursos financeiros e parcerias que possam viabilizar os planos iniciais de reestruturação da Sociedade, onde se vislumbra um montante inicial, na ordem de R$ 150 mil, como forma de garantir a obtenção do AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros), para que se possa dar continuidade na revitalização da Entidade.

 

Parcerias – Um pedido em favor da revitalização do “Treze”

Na condição de integrante do Conselho Deliberativo, onde também assumo a função de secretário, eu, Martim Vieira Ferreira, CPF 959611868-49, RG 11.225.534, celular (19) 991960550, e-mail: [email protected], venho por intermédio deste release, também na condição de jornalista, portador do MTB 21.939, me dirigir à população em geral, bem como entidades e organizações da sociedade civil, além de órgãos governamentais, para envidarem esforços no projeto de revitalização, reafirmando que a entidade configura perante a nação brasileira o terceiro clube de negros mais antigo do País, suplantado por Jundiaí, no Estado de São Paulo (Clube 28 de Setembro, 1895), e em Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul (Sociedade Floresta – 1872).

 

 

 

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