Alvaro Vargas
Algumas seitas cristãs condenam a tatuagem baseando-se no Antigo Testamento, em que é citado “que não devemos marcar o corpo, fazer cicatrizes com açoites como autoflagelo, por nenhum motivo”. (Levítico, 19:28). Contudo, devem ser consideradas a época e as circunstâncias em que esta advertência foi transmitida aos hebreus; uma situação diferente da atual. Evidentemente, esta lei não provém de Deus, mas foi inserida junto com as demais leis que regiam aquela sociedade, objetivando educar um povo recém-liberto, da servidão no Egito. Atualmente, o uso da tatuagem se difundiu em todos os segmentos da sociedade. Importante recordar que a população da Terra conta com aproximadamente 8 bilhões de indivíduos e 22 bilhões de Espíritos na erraticidade. Considerando que número de habitantes no mundo, há 2.000 anos, era de 300 milhões, temos entre nós um contingente significativo de almas que aguardavam há muitos séculos a possibilidade de reencarnar. Trazem ainda em sua memória espiritual, aspectos culturais das existências pregressas (arquétipos), em que a tatuagem era utilizada e servia como um indicador do grupo ou posição social onde habitaram. Embora exista propositalmente o esquecimento das existências passadas, esses arquétipos influenciam as decisões que tomamos e em nosso estilo de vida. Entre os jovens, a tatoo tem sido utilizada como identificação dentro do grupo que participam, ou como alternativa de melhorar a sua autoestima, muitos, inclusive, alegam que a motivação para se tatuarem partiu do desejo de registrar uma superação pessoal.
Na visão espírita, consideramos que o corpo físico é um empréstimo de Deus para o nosso aprendizado na Terra, sendo importante zelar de forma adequada por este patrimônio. Dependendo como é realizada, mesmo que a tatuagem possa ser caracterizada como uma mutilação leve, é possível que o risco de causar algum impacto negativo na alma seja pequeno. O Espírito André Luiz (XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Evolução em dois mundos, cap. Retrato do Corpo Mental), esclarece que “para definirmos, de alguma sorte, o corpo espiritual, é preciso considerar, antes de tudo, que ele não é reflexo do corpo físico, porque, na realidade, é o corpo físico que o reflete, tanto quanto ele próprio, o corpo espiritual, retrata em si o corpo mental que lhe preside a formação”. Portanto, as lesões do corpo físico só terão repercussões no corpo espiritual se ocorrer uma fixação mental do indivíduo diante desta ocorrência ou se o ato praticado estiver em desacordo com as leis que regem a vida. Evidentemente, existe uma grande diferença entre uma tatuagem realizada numa demonstração de afeto entre amigos e familiares, e outra realizada por marginais, com objetivos de identificação entre os seus pares para ações criminosas.
A tatuagem também tem colaborado nas terapias de mulheres que sofreram agressões domésticas e outros traumas, auxiliando também às vítimas da automutilação e sequelas, ao cobrir as cicatrizes com figuras ou símbolos. Além disto, contribui na recuperação dos sobreviventes de suicídio, no qual as vítimas utilizam a tatuagem como um símbolo da decisão de continuar vivendo, superando uma experiência dolorosa. Portanto, antes de qualquer análise crítica que possamos fazer, tenhamos em conta que além de não nos competir fazer juízo de valor de quem quer que seja, desconhecemos os dramas e aspectos culturais dos tatuados por mais extravagante que sejam. O Espiritismo esclarece que sempre evoluímos em cada etapa reencarnatória. Aqueles que ainda não compreenderam a importância e o objetivo de nossa existência na Terra, eventualmente irão despertar, passando a valorizar os aspectos espirituais de sua alma e se libertando da necessidade de adornos em sua vestimenta carnal, que é perecível.
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante espírita