Gregório José
Venho observando as tristes notícias que nos chegam dos quatro cantos do mundo, somos forçados a encarar a realidade sombria das guerras contemporâneas. Sob os holofotes da mídia, vemos conflitos como o embate entre Ucrânia e Rússia, assim como os confrontos intermináveis entre Israel e Hamas. Contudo, não podemos nos deixar cegar pelas manchetes sensacionalistas; há muito mais do que se vê à primeira vista.
Ao analisarmos esses conflitos, é imprescindível que não nos limitemos às narrativas simplistas que frequentemente permeiam o debate político. Sim, questões geopolíticas, interesses econômicos e disputas territoriais desempenham um papel significativo. No entanto, para entender verdadeiramente a complexidade desses eventos, devemos também examinar o papel desempenhado pela religião.
O que dizer da guerra na Etiópia contra a TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigray), com mais de 81.500 e 101.000 vítimas fatais? A guerra em Burkina Faso é a parte mais violenta de um conflito armado mais amplo na região do Sahel, que fica no norte da África e inclui regiões de 10 países: Mauritânia, Senegal, Mali, Burkina Faso, Níger, Nigéria, Chade, Sudão, Eritreia e Etiópia.
No Sudão, milhares tiveram que abandonar suas casas. Em Mianmar milhares de crianças foram assassinadas. Nigéria e Síria, Iêmen que possui uma das facetas mais cruéis desse longo e confuso conflito é a morte e mutilação de crianças — vítimas dos Houthi, dos ataques aéreos da coalizão liderada pela Arábia Saudita e das forças do governo oficial.
As guerras religiosas, como em tantos lugares ao redor do globo, destacam a interseção entre fervor espiritual e ambições seculares. O que começa como uma divergência teológica muitas vezes se transforma em um conflito sangrento, alimentado pela intolerância e pelo fanatismo. É um ciclo de violência que tem assombrado a humanidade por séculos, e parece não ter fim à vista.
No entanto, não devemos sucumbir ao pessimismo. Em meio às sombras da guerra, também vemos a luz do ativismo pacifista, da solidariedade internacional e do diálogo inter-religioso. Esses são os verdadeiros agentes de mudança, os arquitetos de um futuro onde a convivência pacífica entre diferentes crenças e culturas seja não apenas possível, mas inevitável.
Como cidadãos do mundo, temos o dever moral de nos opor a todas as formas de violência e intolerância, independentemente de sua justificativa aparente. Devemos nos unir em prol de um mundo onde as diferenças sejam celebradas, não demonizadas, e onde a paz seja mais do que um sonho distante, mas uma realidade tangível.
Assim como as guerras nos lembram da capacidade destrutiva do homem, também nos convocam a aspirar à grandeza de espírito, à compaixão e à justiça. Que possamos responder a esse chamado com coragem e determinação, construindo um mundo mais justo e humano para as gerações vindouras.
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Gregório José, jornalista, radialista, filósofo