Coronavírus: o que podemos esperar dos testes da vacina

Alexandre Padilha

 

Ultrapassamos mais de 580 mil casos confirmados e 32 mil óbitos por covid-19 no país, na quarta-feira (3) foram registradas 1.349 mortes o que vale a uma morte por minuto. Somos o segundo país do mundo, atrás dos Estados Unidos, em número de novos casos e óbitos diariamente. O Brasil é o epicentro da pandemia e visto internacionalmente como uma aberração na forma como tem respondido a doença.

Uma notícia importante esta semana foi a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que testes clínicos de uma vacina que está em desenvolvimento pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, seja realizada em brasileiros. É uma notícia de esperança, mas que traz a reflexão de quanto estamos desalinhados com o resto do mundo no combate à pandemia já que o Brasil foi o escolhido por ainda apresentar curva de crescimento nos casos e mortes. Essa situação nos dá chance para testes de vacinas e medicamentos, o que é importante, mas, ao mesmo tempo, mostra que o Brasil está fazendo absolutamente tudo errado do que é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Temos o desafio do controle da pandemia da covid-19 onde é evidente a importância da produção o quanto antes de uma vacina eficaz contra a doença. Há mais de 120 estudos no mundo sendo analisados para o desenvolvimento de vacinas. Boa parte deles sendo realizados por pequenas e médias empresas de biotecnologias e laboratórios de universidades, incluindo esse da Oxford.

Os mais otimistas têm apontado a perspectiva de uma vacina já com escala de produção mundial sendo distribuída para ser aplicada no final do primeiro semestre de 2021. Os mais realistas apontam para o final do ano que vem, com mais clareza sobre o uso. Os projetos apresentados são promissores, alguns deles, inclusive, desenvolvendo inovações tecnológicas importantes, mas o que precisamos compreender é que todos eles possuem etapas iniciais, resposta da eficácia e de qual a segurança do uso.

Além do desafio complexo do desenvolvimento da tecnologia da vacina, há que se ter certeza de quais são os grupos populacionais prioritários que devem ser priorizados, certamente terá como alvo os idosos e pessoas com doenças crônicas, ainda não sabemos se serão incluídas gestantes e crianças como na vacina da gripe.

A definição dessas estratégias tem papel importante sobretudo para países que farão essa vacinação através de seus sistemas nacionais públicos, como é no Brasil onde temos um dos maiores programas nacionais de imunização.

Outro desafio é como garantir a produção dessa vacina de uma forma que os países não ricos, como o Brasil, tenham acesso a ela. Quero lembrar o exemplo da vacina para o H1N1 na pandemia de 2009. Em 2010, quando era Ministro da Coordenação Política e acompanhava a ação dos estados e municípios, o Brasil foi o país que mais vacinou pelo sistema público de saúde, foram mais de 100 milhões de pessoas. Porque o Brasil naquele momento participava como um ator global, era respeitado no segmento da saúde no mundo inteiro como um líder na garantia de acesso a medicamentos e vacinas.

Também precisamos ter a certeza da transferência de tecnologia para o Brasil no acesso a medicamentos e a outras tecnologias de saúde. Por isso, apresentei na Câmara dos Deputados o projeto de lei 1320/2020 que propõe a quebra de patentes em casos de emergências de saúde pública. Batemos o recorde no número de mortes diárias e não podemos aceitar atrasos no acesso a medicamentos e vacinas que poderão surgir. A vida deve estar à frente de qualquer lucro das indústrias privadas.

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Alexandre Padilha, médico, professor universitário, deputado federal (PT-SP)

 

 

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