Cuca e o simbolismo de sua declaração

 

Dorgival Henrique

Ely Eser Barreto Cesar

José Machado

_________________

 

 

O ex-jogador de futebol, técnico renomado dessa modalidade esportiva e que atualmente treina o Clube Atlético Paranaense, Alexi Stival, o Cuca, no último dia 10 de março, após a entrevista coletiva que deu para falar do desempenho de sua equipe no campeonato paranaense, leu um texto de sua autoria, que teve a colaboração de sua esposa e de sua filha, através do qual, de forma comovente, se posicionou sobre a violência contra a mulher, comprometendo-se a se engajar na luta para transformar essa triste realidade. Nas suas palavras: “A realidade tem que ser transformada para que o mundo seja um lugar mais seguro para as mulheres. Quero e me comprometo a fazer parte da transformação. Vou fazer isso com o poder da educação. Quero ajudar. Quero jogar luz, usar a voz que tenho para, ao mesmo tempo que me educo, educar também outros homens, principalmente os jovens que amam futebol… O que vocês vão ver de mim daqui para frente não serão palavras, serão atitudes.”

Como é sabido, Cuca se envolveu num caso de estupro na Suiça em 1987, foi processado e condenado pela justiça daquele país e recentemente teve essa sentença anulada. Vinha sendo cobrado por manter silêncio sobre o caso.

Como afirmou a conhecida colunista Milly Lacombe, a atitude de Cuca é histórica. Ao que se sabe jamais alguém de tanta notoriedade e que carregasse tal acusação veio a público para, com firmeza e humildade, fazer uma autocrítica desse porte e com esse significado. Seguramente sua atitude terá reflexos positivos enormes na luta contra a violência sobre as mulheres, sobretudo no mundo do futebol, onde, conforme o próprio Cuca, “…ainda é um mundo de muito preconceito. Entendi que quando me cobram não é só sobre mim, é sobre a forma como tratamos as mulheres”. Nesse contexto, impossível não evocarmos os recentes, tristes e repulsivos casos de Daniel Alves e Robinho.

Há quem minimize a atitude de Cuca e considere que ele não fez mais que a obrigação, não cabendo, portanto, qualquer elogio a ele.

Pensamos diferentemente.

A violência contra as mulheres, particularmente o estupro, é, por qualquer ângulo que se examine, algo execrável e não pode ser aceito jamais, impondo-se duras ações punitivas sobre os responsáveis, não importando sua condição social. Contudo, é necessário ir além, na pegada socioeducativa civilizatória, com debates e ações afirmativas. A atitude de Cuca significa, a nosso ver, uma ruptura pessoal inspiradora, pois carregada de humanismo, e isso é fundamental para as mudanças que sonhamos. Trata-se, por outro lado, de um inegável fato político e como tal deve ser difundido, na perspectiva de calar fundo na consciência social.

Tudo indica que Cuca está verdadeiramente comprometido com seu engajamento pessoal na luta para transformar a realidade atual de violência contra as mulheres e que, para além das palavras, tomará atitudes. Será cobrado por isso. A conferir.

_______

Dorgival Henrique, Mestre em Administração e ex-Diretor da FGN da Unimep; Ely Eser Barreto Cesar, Doutor em Teologia e ex-Vice-Reitor Acadêmico da Unimep; José Machado, e-prefeito de Piracicaba por dois mandatos

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima