Chapéu caipira

Camilo Irineu Quartarollo

 

Bolsonaro recebeu a honraria de Cidadão Piracicabano, requerida pelo vereador Laércio Trevisan. Espantoso o texto justificativo ao afirmar que o ex-presidente repassou verbas vultosas para combate ao Covid. Pelo que me consta o político contra a vacinação, chamava a doença de “gripezinha” e receitava Cloroquina.

A cidade é memorável pela passagem de uma pandemia antiga e com o culto ao Divino. No final do século XIX, Prudente de Moraes, primeiro presidente civil do país, presidia a Câmara de Vereadores. Eleito presidente da República, de forma austera e responsável, conhecia a cidade, fazia o caminho de trole pelo percurso antigo da Rodovia Luiz de Queiróz até São Paulo, então sede do governo brasileiro. Enquanto despachava do seu gabinete o cavalo pastava, mas o presidente parecia ter as ancas mais duras que o general Custer, um militar genocida americano. Desde que os generais proclamaram a República os civis e empresários se cercaram para que o país não desmoronasse sob baionetas e garruchas tolas. Prudente sofreu inclusive um atentado desferido por um militar de baixa patente, cujo golpe falhou na hora. No Brasil, militares e civis sempre estiveram se digladiando.

Atualmente, Bolsonaro, já inelegível, está em palpos de aranha com seu ajudante de ordens que conta tudo “do verão passado”. Despejado do Planalto, pode pegar alguns anos de cana numa sala de Estado maior. Bolsonaro é processado constitucionalmente com a Presunção de Inocência e Ampla Defesa. Entretanto, mesmo antes da Sentença final, já pede Anistia. Parece que Bolsonaro confunde esse instituto com o Habeas Corpus!

Na votação pela homenagem na terrinha, Paulo Camolese e Pedro Kawai, PDT e PSDB, respectivamente, ausentes da sessão. Porém, presentes e atuantes as mulheres Rai e Silvia Morales, do PT e PV, para reprovar tal ato.

Em Brasília, o capitão já se entregara ao Legislativo federal com orçamento secreto, Casa civil e tudo. Restaram-lhe o Jet-Ski, motos, bravatas e agora esse realce de prestígio político arrefecido e sombrio.

São tantas e notórias as acusações contra Bolsonaro desde que o General Geisel o chamou de mal militar, que até esquecemos as mais antigas. Dá livros, romances policiais como O desaparecimento das joias, O colar da primeira dama, A recompra do Rolex, O Ajudante de Ordens, Perfil de atleta, Minutas do golpe, Oito de janeiro – o dia que não acabou, Festa da Selma, Caminhão-bomba no aeroporto – combustível do golpe, Arapongagem,

A última notícia dele que tivemos do G1, Correio Brasiliense e de outros veículos foi pela acusação de importunação a uma baleia jubarte em São Sebastião, litoral paulista, com seu Jet-ski.

Os vereadores fazem as honras ao político alegando repasse de verbas à cidade e passou na Câmara essa triste página, um prêmio de consolação com nosso chapéu  caipira!

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros, como o Contos inacreditáveis da Vida adulta

 

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