A baleia e a cortina de fumaça

João Salvador

No atual e trágico cenário político, criou-se uma cortina de fumaça para desviar a grave realidade dos fatos, e para conseguir esse fumacê, estão jogando gasolina para apagar o fogo, um tremendo tiro no pé, pois a chama arde nos bastidores de Brasília, dentro de uma atmosfera densa, diabólica, de destilação de ódio e vingança. Jogam a rede numa pesca probatória sem precedentes e o peixe graúdo não aparece na malha. Estão tomando sopa com um garfo e suspeita-se, ainda, que é “a marvada pinga que atrapaia” o vingador-mor.
Com buscas e apreensões de computadores, celulares e passaporte, numa perseguição implacável e descabida aos representantes de oposição, o consórcio midiático se se extasia com suas toscas narrativas do avizinhamento de uma prisão do ex-presidente, numa típica ginástica mental. Mesmo os que têm poucos neurônios já perceberam que o povo não é idiota, doutrinado, e que confia na inocência do perseguido. O jogo é sujo e a partida se desenrola na desconfiança que está tudo dominado, combinado entre o juiz e o ladrão, junto aos seus “ajudantes de serviços gerais”. A perseguição ao oponente é implacável, porque joga mais forte dentro das quatro linhas, apoiado por uma torcida fervorosa, de lotar estádios, faz muito barulho, batuca na massa de pão e cresce sem parar, diferentemente do outro time, cuja torcida é pequena, pacata, paga para assistir aos jogos, na velha “política do pão e circo”.
Em um meme que corre nas redes sociais, de forma viral, sobre o depoimento da baleia importunada, à polícia federal, ela isenta o capitão por se sentir culpada ao se aproximar muito de seu ídolo. Mas, ao mesmo tempo, culpa-o por ter ingerido uma latinha de refrigerante e lhe perguntado se estava com sede, e ainda compará-la com um ministro recheado. É grave, um racismo marinho e interespecífico. Bata o martelo, senhor juiz, merece punição (risos).
Em uma rede de televisão, parceira do autoritarismo vigente, seus comentaristas estão em êxtase, como em um papo de botequim, antecedem a prisão do ex-mandatário. Esquecem que para estabelecer um regime ditatorial, os meios de comunicação são controlados pelo estado para manipular a população. Parece que o Brasil está bem próximo dessa realidade. No meu tempo, se conhecia o “globo da morte”, hoje, porém, existe uma rede Goebbels, aliada ao arbítrio, à censura das redes sociais.
O julgamento e condenação à prisão, para os que não têm foro privilegiado, só deve ocorrer depois do processo ser tramitado nas instâncias primárias, e, somente depois de esgotado o amplo direito de defesa, profere-se a sentença. Pela lei, não é uma atribuição da “suprema corte”.
Para decretar um golpe de “estado de sítio”, somente dentro das normas da Constituição”, jamais pela vontade de um presidente. Para que isso aconteça, ele deve ouvir os Conselhos da República e da Defesa, bem como os presidentes do Senado e da Câmara. Por fim, solicitar ao Congresso a aprovação da minuta do golpe. Naquele dia 8, foi apenas uma baderna, sob os passos lentos e olhares complacentes de um general, oferecendo água gelada aos baderneiros. Uma brutal armação para atingir o ex-chefe, mas aos poucos, tudo vai se encaixando e essa perseguição despudorada não pode durar para sempre. A história registrará esse capítulo sombrio e demonstrará que a toga é apenas uma vestimenta e não uma coroa de rei.
Se o pior vier a acontecer, o mais viável não é colocar o povo nas ruas, e, sim, armar o contragolpe dentro do princípio do “fique em casa e o resto se vê depois”. Gerar um foco de resistência, formado pela união das indústrias, do comércio, empresários, o agronegócio e os caminhoneiros, pela volta da liberdade de expressão, da democracia plena e não a relativa, imposta por dois poderes conjuminados, enquanto o outro se mantém omisso, calado, por conivência ou conveniência, certamente. Lutar sim, de forma pacífica e ordeira, contra os desmandos e os escândalos na república.

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João Salvador é biólogo

 

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