O Sexo Nos Relacionamentos (II)

 

Muitas diferenças entre os relacionamentos atuais com os da época de nossos pais ou avós são fortemente marcadas pelas mudanças de paradigmas de uma sociedade que já foi hierarquizada, vertical, para se tornar horizontal, tribalista. Há mais de quatro décadas tínhamos ideais comuns: “faça amor, não faça a guerra”, “paz e amor”, “é proibido proibir” eram bandeiras que nos uniam. A nação, o pai, a mãe, autoridades, eram reconhecidos em sua hierarquia. Era a sociedade do dever, em que todos sabiam como era o agir certo e o errado.

A globalização retirou do pai o poder de organizar, nortear a vida dos filhos que agora invertem papéis em casa. O tecido social se esgarçou, e o pacto social não é mais respeitado verticalmente. Isso tem reflexos diretos no comportamento sexual.

Ao homem cabia a conquista enquanto a mulher se posicionava como objeto de desejo. Isso mudou, não são mais imposições culturais. O homem que percebe a paquera não se sente na obrigação de corresponder e a mulher também partiu para a conquista. O que surge agora não é mais ‘a um cabe fazer isso e ao outro aquilo’, mas sim respondermos por nossa singularidade, nosso desejo. Se ainda no plano da conquista os paradigmas caíram por terra, o momento de intimidade de um casal sofre os mesmos efeitos dessa mudança. E isso é uma enorme diferença entre as gerações.

Em 1970, havia 20 mil rinocerontes brancos nas savanas do Quênia, no leste da África. Hoje, restam 370 deles, e destes somente a metade está protegida em reservas florestais. Meu ex-marido começou a me tratar muito mal e logo descobri que ele tinha outra família. Quando confirmei isso ele disse ‘estou indo morar com o amor da minha vida’. Fiquei péssima. Apesar de estar separada há três anos, bem profissional e afetivamente, etc., sempre que preciso falar com ele fico mal. Se eu preciso discutir pontos de vista com alguém me sinto bloqueada e mal por horas.

Marisa.

 Que ele tenha escolhido a outra até se compreende, mas porque feri-la com ‘estou indo morar com o amor da minha vida’? O que o levou a falar assim, agredindo-a? Ou sua intenção era magoá-la ou você está se identificando com o papel de vítima. Ou ambos, não sei.

Não é possível dizer o que a leva a esse bloqueio sem estar em tratamento. Tudo indica uma associação com o episódio, mas há mais coisas a por trás. Mesmo porque ainda fica incomodada ao falar com ele. Você associa sua dificuldade em discutir pontos de vista a esse episódio? Parece-me que sim, pois essa queixa aparece na sequência, percebe? Você estaria vivendo uma reprodução das diferenças entre você e seu marido? Diferenças que apareceram na infidelidade dele? A dificuldade de expor seus pontos de vista surgiu após esse fato ou não? Pode ser que esteja revivendo os sentimentos ocorridos na traição. Facilmente misturamos emoção e razão. Mesmo que racionalmente saiba que são apenas ideias divergentes, o bloqueio surge.

 

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