Gregório José
O trend da semana como com a favor-e-contra a decisão de um proprietário de padaria em pedir a um cliente para não usar notebook em seu estabelecimento. O rapaz se achou no direito de questionar e a situação chegou ao ponto de agressões verbais, ameaças e intimidações. Em meio às mudanças na forma como encaramos o trabalho, os estabelecimentos comerciais tornaram-se, para muitos, extensões dos escritórios convencionais. Nesse novo mundo, bares e restaurantes transformaram-se em espaços de trabalho remoto, onde a busca pelo equilíbrio entre o cappuccino e as planilhas ganha contornos inesperados.
Contudo, como tudo na vida, nem todos os empresários abraçam essa metamorfose com a mesma empolgação. O fato de Barueri lançou luz sobre um conflito que se desenha nas entrelinhas dos nossos cafés diários. Um conflito entre o aroma do pão recém-saído do forno e o tilintar incessante das teclas dos laptops.
A proibição ou liberação do uso de eletrônicos nesses recintos é tão variável quanto o sabor de um bom expresso. Enquanto alguns estabelecimentos acolhem notebooks com braços abertos, outros erguem as barreiras da resistência contra a invasão dos dispositivos modernos.
O embate recente em Barueri gerou faíscas que ecoam nas redes sociais e pararam nas salas frias de delegacias.
A verdade é que não existe um manual único para tal dilema. Cada comerciante, à semelhança de um “cheff” diante de sua receita exclusiva, define suas próprias políticas. Se alguns encorajam o uso de laptops para criar uma atmosfera de modernidade, outros enxergam na tela luminosa do computador uma ameaça ao charme dos encontros tradicionais.
Percival Maricato, diretor jurídico da Abrasel, nos lembra que, nesse universo, as regras são tão variáveis quanto o cardápio de um buffet. O critério de razoabilidade torna-se a bússola para os proprietários, uma espécie de guia gastronômico das decisões. Em mesas restritas, fazer daquela cadeira um escritório pode ser como adicionar pimenta demais na receita.
É crucial, para os comensais contemporâneos, estar cientes das políticas do estabelecimento antes de abrir a tampa do laptop. A prática é legal desde que seja devidamente anunciada. Não é proibido portar computadores, mas transformar o local em um escritório pessoal é algo que pode azedar a relação entre cliente e estabelecimento.
A natureza mutante do direito do consumidor exige que os frequentadores desse novo mundo estejam atentos às mudanças legais, como verdadeiros sommeliers do Código de Defesa do Consumidor. A Abrasel, por sua vez, clama pela priorização da lei e da razoabilidade, sugerindo uma dança harmônica entre o direito e a vivência cotidiana.
Nossos estabelecimentos, afinal, não são apenas espaços físicos, mas palcos de uma peça onde cada cliente e proprietário desempenham seus papéis. Entre a xícara de café e o notebook, a balança do poder oscila, às vezes como uma comédia, outras como um drama. Cabe a nós, clientes e donos de estabelecimentos, encontrar o roteiro perfeito para essa performance cotidiana, onde cada decisão molda o palco do convívio humano.
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Gregório José, jornalista, radialista, filósofo