São Paulo, a metrópole espoliada e desconhecida

Almir Pazzianotto Pinto

 

 

Resido em São Paulo desde 1962. Aqui fiz carreira profissional e política. Permaneci em Brasília entre 15/3/1985 e 15/3/2002. Quando retornei, quase não a reconheci. No curto período de 17 anos as transformações foram acentuadas, para não dizer brutais.

Em busca de segurança, deixei o escritório da Rua Bráulio Gomes, ao lado da Rua 7 de Abril, atrás da Biblioteca Municipal, e me mudei para o Brooklin Novo, nas imediações da Av. Engenheiro Luís Carlos Berrini.

Em pouco mais de duas décadas, o centro se tornara inabitável. Apesar de abnegados esforços de lojistas e proprietários de bares e restaurantes, tinha sido ocupado por moradores de rua, refugiados, comércio de calçada e assaltantes.

As últimas disputas pela prefeitura revelam o declínio do perfil dos candidatos, desde as gestões dos prefeitos Prestes Maia (1941-1945 / 1961-1964), Faria Lima (1965-1969), Figueiredo Ferraz (1971-1973), administradores honestos e corajosa visão de futuro.

O crescimento incontrolável do número de habitantes expandiu a cidade, mas não o espaço de 1.5 mil km2. Ao lado de bairros residenciais e de grandes edifícios, surgiram imensas favelas, conhecidas como comunidades. O tráfico e o consumo de entorpecentes multiplicaram os índices de violência e produziram cracolândias e multidões de drogados.

São Paulo possui 12,33 milhões de habitantes. É a 5ª maior metrópole do planeta. Menor do que Tóquio, Delhi, Shangai e Daka. Qual dos pré-candidatos sabe quantas são as ruas, os quarteirões, as praças, pontos de luz, o número de postes, de quilômetros de fiação, de árvores sadias ou em condição de risco, de transformadores e semáforos? Como estão as redes de água e esgoto, qual a quantidade de ligações clandestinas, a condição das linhas de telefonia, a real situação do sistema educativo e das unidades de assistência à saúde? A voraz construção de torres e de edifícios exterminou áreas verdes, aumentou a poluição, exigiu a demolição de casarões históricos, de pequenos prédios, de sobrados, e de casas, em bairros outrora tranquilos, arborizados e agradáveis.

São Paulo já não cabe dentro de si mesma. O passado do sociólogo e deputado federal, Guilherme Boulos, revela alguém determinado a resolver problemas de moradia pela força, com a tomada de imóveis públicos e privados, para entregá-los ao MST. Ricardo Nunes, o vereador elevado a prefeito, exibe como obras a morosa reforma da Av. Santo Amaro, e a entrega à iniciativa privada do Pacaembu, Estádio Paulo Machado de Carvalho.

São Paulo tem horizonte nebuloso e assustador. Para evitar que a cidade permaneça contagiada por doenças urbanas, que a cada dia mais se agravam, os paulistanos devem encarar as eleições de outubro com seriedade. O sufrágio universal deve ser exercido de maneira responsável. Observo, porém, pessoas da média e alta burguesia envaidecidas, quando se declaram alheias à política. Não se dão conta de que a alienação leva à corrupção e à tomada do governo por demagogos e populistas, hábeis na manipulação das grandes massas. Como disseram Marx e Engels, “a burguesia (endinheirada) produz sobretudo os próprios coveiros”.

Entregar São Paulo à aliança entre petistas, comunistas e socialistas, determinará o resultado das eleições estaduais e nacionais de 2026. Está em jogo, nas eleições das capitais e grandes cidades, o desfecho da disputa entre marxistas-comunistas, e partidários da liberal democracia, defensores da propriedade privada.

Prestem atenção ao que escreveu o prof. Osvaldo Caggiola, da Universidade de São Paulo: “Democracia e comunismo não são idênticos: o proletariado no poder só começa a efetuar a passagem para a sociedade comunista por meio da supressão da propriedade privada burguesa e da progressiva socialização dos meios de produção” (Manifesto Comunista, Karl Marx e Friedrich Engels, Organização e Introdução de Osvaldo Caggiola, Boitempo Editorial, SP, 1998, pág. 22).

A ilusão da ditadura do proletariado levou ao poder Lenin, Trotsky e Stalin, na Rússia: Fidel Castro em Cuba; Chavez e Maduro na vizinha Venezuela; Ortega na Nicarágua. É preciso dizer mais?

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Almir Pazzianotto Pinto, advogado, foi ministro do Trabalho e presidente do TST (Tribunal Superior do Trabalho), auitor de “A Falsa República”

 

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