A paz

 

 

Camilo Irineu Quartarollo

 

 

O ano se inicia com o Dia mundial da paz, dia primeiro.

Entretanto, o natal é mais aclamado pelos presentes e no primeiro dia a paz já começa a definhar. A paz é de natureza precária, precaríssima. A trégua entre beligerantes é um mecanismo necessário ao fortalecimento de qualquer nação.

A pomba com ramo verde no bico vem nos lembrar de que os campos voltam à vida, mas os bombardeios e mortes afugentam pombas, pardais e beija-flores.

Sem a paz nem a confraternização do natal seria possível, e o que fazemos? As famílias relevam, aturam-se ou perdoam-se pelo bem dos filhos, dos sobrinhos e vizinhos, evitam falar de política partidária ou ouve-se silente, pois é natal. O natal é uma espécie de trégua dos adultos. Passam a valorizar o encontro pelo aspecto festivo da reunião familiar ou de amigos em torno, em comum. As pessoas podem ser mais de o que imaginamos delas, podem surpreender. As pessoas não são exatamente o que pensam. Ou melhor, não são o que pensamos delas.

O natal foi um dia de graça, de desarme. O profeta Isaías, conselheiro do rei, conclama ao ano da graça e o nascimento do príncipe da paz.

Por certo, o nascimento de Jesus põe muita contradição às guerras, ao menos o Jesus histórico real. Não nasceu no palácio imperial de Cesar Augusto, não teve a graça da riqueza fácil. Em Gaza, onde Jesus teria nascido, matam-se milhares de crianças indiscriminadamente, superaram o antigo Herodes em crueldades. Se esses ataques fossem no polo Norte, na terra do bom velhinho, acredito que o estado agressor já estaria sob o embargo econômico dos EUA e decretada a prisão dos dirigentes. Na pátria de Jesus, entretanto, a criança é somente mais um palestino expatriado. Mesmo na ‘noite feliz’ do Ocidente se noticiam os ataques terríveis contra a população civil e indefesa palestina e a versão oficial é “defesa de Israel”?!

A África do Sul de Mandela e Ramaphosa entrou com pedido ao Tribunal Penal Internacional para investigar a ação israelense. Os protestos pelo mundo todo, inclusive protestos dos próprios judeus, se voltam contra os dirigentes de Israel. Outros,  alheios à questão de fato, limitam-se à retórica dos “dois estados respectivos, judeu e palestino”. De que jeito, estão varrendo os palestinos de sua pátria?!

A guerra  interessa a quem tem armas, ou melhor, a quem as fabrica e comercializa. Essas as empresas mais prósperas. As guerras fogem aos anseios do profeta Isaías de que as espadas se convertam em arados e as lanças em foices. Esse rico mercado, de bilhões, ganhou muito na Ucrânia endividada e agora ganha com bombas mortíferas lançadas como games sobre gente viva. A guerra  prejudica até mesmo a economia de Israel, como se organizar e viver com a guerra às portas?

Do osso à pedra, do metal à tecnologia, da ideologia à economia bélica. As guerras não são por ideais, esse ciclo é episódico. São por dinheiro. Deem uma chance à paz!

 

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros

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