Camilo Irineu Quartarollo
Os estudantes se acotovelam em alguma casa entre estranhos, oriundos de cidades do interior para estudar em alguma universidade, longe dos pais e com regras próprias. Uma vida comunitária, ninguém é melhor que ninguém ou rouba a meia ou cueca que se seca atrás da geladeira. Os moradores mais ricos também têm de obedecer a regra da casa. Nesse convívio se estuda, se reza, se grita, se festeja e começam as ideias sobre a realidade coletiva. São as chamadas repúblicas de estudantes.
No âmbito de governo, a iniciar-se no século XIX a forma republicana se opunha à monarquia. No Brasil, foi um meio de destituir o monarca por retaliação – a proclamação da República veio um ano após a Abolição assinada pela filha de D. Pedro.
Tão rapidamente veio a República que ninguém sabia ao certo o que era. O povo ainda gritava vivas ao Imperador, pois o marechal que chefiou o golpe era monarquista e próximo a D. Pedro.
República é um termo do latim que traduzido é coisa pública, comum, coletiva, não de padrinhos, seitas, militares ou sociedades secretas e, obviamente, laica.
Com o fortalecimento da província de São Paulo, ora estado, fez-se o terceiro presidente na pessoa de Prudente de Moraes, advogado e vereador reconhecido por Piracicaba.
Era a primeira fase da República, a qual consolidou as oligarquias cafeeiras. Na época, os ribeirinhos de Piracicaba que vivem na região hoje assediada pelo mercado imobiliário, eram “os de baixo” e os da região onde morava o antigo presidente, hoje museu Prudente de Moraes, “os lá de cima”.
O que é ser republicano? O republicanismo diz respeito ao espírito cívico, de quem atua em nome da coletividade, não àqueles que usam de minúcias para privar o povo dos seus direitos – o bem comum é a regra precípua de ser republicano.
Tem os grupos que atuam politicamente dentro do Congresso, quais sejam os da Indústria, Construtoras, Imobiliárias, Planos de saúde, Agronegócio e muitos outros. São os lobbies que influem nos políticos e pressionam os eleitos, conforme suas pautas.
Como o povo influi com suas demandas? Ara, como pode!
Em votações ‘impopulares’ no Congresso, nas pautas contra o cidadão, a quem o político devia defender vacila. A plebe vai às galerias de Brasília e grita muito, esperneia. Nas ruas toma spray de pimenta na cara, apanha de cacetete e seus cartazes passam em segundo plano no noticioso, em flashs rápidos, “mai nói vorta”.
Os movimentos populares fazem a República de fato e levam muitos a confundi-la com democracia no Brasil, mas a luta é longa até fazer valer seus direitos. A abolição não foi benemerência – os donos do poder não conseguiram segurar por mais tempo à vista dos ingleses. Veio de muitas leis arrancadas, por sangue derramado, dor, lágrimas, vexações, dos abolicionistas anônimos ou ilustres. Temos história, não somos República de bananas.
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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros