A data em que se celebra o Pentecostes está relacionada com o calendário festivo dos judeus. Eles celebravam aos cinquenta dias após a Páscoa, a colheita de grãos. Era a “festa da colheita”, em que agradeciam a Deus, e durante todo esse dia era proibido trabalhar. A partir do século II d. C., deu-se a essa festa um sentido histórico, sendo considerada o aniversário da transmissão das “Tábuas da Lei” a Moisés, no Sinai. Eles calcularam que esse evento ocorreu no quinquagésimo dia, depois do êxodo, tornando-se uma tradição.
Para a comunidade cristã, essa data tem outro significado. Segundo o apóstolo Paulo “às línguas de fogo que desceram sobre a comunidade cristã, em Jerusalém, os encheu do Espírito Santo, e eles saíram a pregar, em diversos idiomas, sendo por todos entendidos” (Atos dos Apóstolos, 2:1-13). Por “Espírito Santo”, compreendemos ser uma legião de espíritos santificados na luz e no amor que cooperam com o Cristo. O espírito Emmanuel (Mecanismos da Mediunidade, André Luiz & Chico Xavier) cita que “os emissários espirituais do Senhor, através dos cristãos, produziram fenômenos físicos, como sinais luminosos e vozes diretas, inclusive psicofonia e xenoglossia, em que os ensinamentos do Evangelho foram ditados em várias línguas, simultaneamente, para os israelitas de procedências diversas. Desde então, os eventos mediúnicos para eles se tornaram habituais”. O Espiritismo explica que todos aqueles que possuem a mediunidade ostensiva, recebem essa característica antes de reencarnarem. Portanto, o Pentecostes não criou médiuns, apenas desenvolveu de forma simultânea, a mediunidade que se encontrava latente nos cooperadores de Jesus.
Foi um evento de grande magnitude, e na opinião de Cairbar Schutel (Vida e Atos dos Apóstolos), o trabalho dos apóstolos, durante a vida corpórea de Jesus, foi praticamente nulo. Só após a “explosão de Pentecostes”, é que eles entraram em ação para o desempenho de grandes tarefas. Pedro a considerou como de grande importância, citando que durante a sua jornada terrena, antes do Pentecostes, era homem frágil e pecador, não hesitando em “apedrejar” os mais infelizes, chegando ao extremo de advertir o Cristo para fazer o mesmo. Apenas depois que ele “despertou” pela inspiração celeste (Pentecostes), foi que passou a considerar os ensinamentos do Cristo, com maior propriedade (Paulo e Estevão, Segunda Parte, cap. 3, Emmanuel & Chico Xavier).
Sobre a possibilidade de se considerar o Pentecostes, a vinda do Consolador (João, 14:15-17), Allan Kardec mencionou que “o Espírito Santo inspirou os cooperadores de Jesus, desanuviando a inteligência deles, desenvolvendo aptidões mediúnicas, destinadas a facilitar-lhes a missão, porém nada ensinou além daquilo que o próprio Mestre já ensinara. Portanto, o Espírito Santo, não realizou o que Jesus anunciara relativamente ao Consolador” (A Gênese, cap. XVII, item 42), que veio mais tarde (codificado por Allan Kardec), que é o Espiritismo, contendo a interpretação correta de todos os ensinamentos de Jesus.
Por quase três anos, Jesus preparou os 12 discípulos do colegiado Galileu, estendendo para 72, que visitaram as regiões em que não pôde estar presente. Antes de sua “ascensão”, delineou a programação para os seus seguidores (os 500 da Galileia), trabalho a ser executado ao longo dos séculos. Mas, conforme o espírito André Luiz (Mecanismos da Mediunidade, cap. 26, Chico Xavier), foi no dia de Pentecostes, em que vários fenômenos mediúnicos ocorreram, é que marcou a tarefa dos apóstolos, mesclando-se efeitos físicos e intelectuais na praça pública, constituindo a mediunidade a partir daquela data, em uma viga mestra de todas as construções do Cristianismo, nos séculos subsequentes. Compreendemos então, que a atividade mediúnica exemplificada e endossada por Jesus, foi popularizada no Pentecostes, e hoje é exercida nas casas espíritas, dentro dos fundamentos do cristianismo, com o objetivo de nos instruir e atenuar as nossas dores físicas e morais.
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita