Argentina fechará 12 ministérios

Dirceu Cardoso Gonçalves

Circula pelas redes sociais, vídeo onde Javier Milei, presidente eleito da Argentina anuncia a eliminação de 12 ministérios e a manutenção de apenas oito. Os de natureza político-ideológica, que foram criados para empregar militantes e conquistar os votos das minorias que não têm força para se eleger, mas podem ajudar na eleição de quem já possui seu capital político. Pela fala do futuro presidente que – evidentemente – era uma declaração de campanha – os argentinos deixarão de gastar seu dinheiro público com os ministérios do Turismo e Esportes, da Cultura, do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, das Mulheres, Gênero e Diversidade, de Obras Públicas, de Ciência, Tecnologia e Inovação, do Trabalho, Emprego e Seguridade Social, da Educação, do Transporte, da Saúde e do Desenvolvimento Social,  Restarão as pastas do Capital Humano, da Infraestrutura, da Economia, da Justiça, da Seguridade, da Defesa, das Relações Exteriores e do Interior.
Exatamente o contrário do que acontece no Brasil, Quando Dilma Rousseff foi afastada, Michel Temer diminuiu de 32 para 23. Jair Bolsonaro reduziu de para 18, embora tenha mantido quatro órgãos com status ministerial. No começo do ano, ao assumir o terceiro mandato na Presidência, Lula aumento para os 37 ministérios, um aumento de 60%. O fez, tanto para acomodar o pessoal que o levou à vitória eleitoral, quanto para conquistar votos congressuais que precisa para aprovar seus projetos no parlamento.
Verifica-se que a diferença entre o Brasil e a Argentina de Milei é quilométrica. Enquanto aqui a aritmética é da cooptação de apoios em torça de emendas parlamentares e outras benesses, lá a ideia é o enxugamento, já que o país quebrou literalmente. Além de diminuir os ministérios, o novo governo prepara a privatização de empresas e serviços estatais, num modelo inteiramente novo de administração. É tudo muito novo aos olhos do mundo. O desafio inicial do novo governo é a dolarização da economia e a liquidação do Banco Central, que virão logo após a extinção dos ministérios. Analistas ainda perguntam se o presidente terá forças para promover mudanças tão radicais na Argentina, cujo povo possui sangue “quente”.
A nós – principais parceiros econômicos da Argentina — só compete neste momento observar o rumo das coisas no vizinho país e buscar ter o melhor relacionamento possível, independente do viés político-ideológico daqui e de lá. As relações comerciais, a troca de mercadorias, veículos e outros produtos nada tem de político ou ideológico. Tanto faz vendê-los ou compra-los de quem tem alinhamento diferente do nosso. Mas convém observar quais os resultados que as medidas de tamanho impacto que o novo governo vem preparando. Elas poderão nos sinalizar soluções cabíveis também para nossos problemas, independente de serem nossos governantes simpáticos ou não a Milei e seus parceiros de Buenos Aires.
É de se esperar que os dois lados da relação Brasil-Argentina tenham muito juízo e possam se beneficiar das convergências e aprender com as divergências. Quando nosso vizinho faz algo que dê errado, podemos nos beneficiar disso, evitando fazer a mesma coisa. Por todas as incertezas, nunca é demais a frase Deus salve a Argentina (e jamais nos desampare)…

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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo; [email protected]

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