Viagens dentro de nós

Elda Nympha Cobra Silveira

 

Quando programamos uma viagem temos as melhores expectativas. Viajei para a Rússia e depois para a Escandinávia há pouco, como já visitei outros países. Cada lugar tem seu atrativo. Como não apreciar um balé em Moscou, que é o seu habitat, por assim dizer? As bailarinas volitavam, dando a impressão que o piso do palco era rolante, tal a habilidade, a destreza de horas de ensaio aliadas ao talento. A beleza de cada bailarina extasiava! Pareciam moldadas com a mesma face, o mesmo sorriso e o mesmo tipo físico. As vestes de um luxo inimaginável, talvez um resquício do tempo em que a monarquia dos czares ainda estava no seu auge.

Os palácios de Moscou… Ah!

São de uma suntuosidade que extrapola tudo o que se possa imaginar! Em Novgorod e S. Petersburgo, maravilhas arquitetônicas com paredes e mais paredes cobertas de ouro incrustado com volutas e flores, frutas e anjinhos. Nos cantos das paredes, os aquecedores vão até o teto e parecem adornos, pois são de um requinte fora de propósito. Tudo aquilo, suplantou o esplendor que já tinha visto em Versalles. Ao mesmo tempo em que me extasiava, foi me dando tanta angustia imaginar quantas pessoas trabalharam para que essa ostentação sem tamanho se realizasse pelos caprichos de rainhas, imperatrizes e filhas de reis insatisfeitas com sua vida.

À imperatriz Catarina II, a Grande, segunda esposa de Pedro, o Grande, se deve muitos palácios e museus que hoje existem em S. Petersburgo segundo a história não autorizada de sua vida, que é divulgada sem pejo nenhum pelos guias de turismo, que afirmam que ela presenteava seus amantes com palácios suntuosos, vistos através do “city tour”, ou ao entrarmos dentro deles.

São verdadeiras maravilhas, feitas pelas mãos de competentes artistas italianos e de outras partes do mundo… Estruturas monumentais cheias de jóias incrustadas de ouro, de objetos cravados de pedras preciosas, pisos e móveis marchetados, tetos rebuscados com pinturas e portas lavradas e revestidas de ouro. Inclusive, muitos quadros de pintores renomados adornam os palácios e os museus russos.

A realeza de toda a Europa deixou para a humanidade seus bens monumentais, sua riqueza inimaginável, para que as novas gerações aprendessem que eles apreciavam as artes, tinham bom gosto e amavam o belo, o que demonstra que não viviam só a futilidade que imperava naqueles tempos onde a tônica era a guerra, o luxo, sem pensar no povo oprimido, pobre e faminto, e a dissipação da moralidade, por causa dos casamentos arranjados pelos ventos da política ou para agregar e destruir nações.

Mas será que modificou muito esse estado de coisas? O povo continua sofrendo, havia fome naquele tempo e hoje não há? Mais de um bilhão de pessoas morrerão de fome até 2050! E da mesma forma que antigamente, existe criminalidade, desigualdade social e imoralidade política em todos os países do mundo!

Mas mesmo que pareça que nada tenha mudado, porque temos ainda ricos e pobres, abastados e miseráveis, temos o consolo de não haver hoje nenhuma Maria Antonieta,  que ao saber que o povo não tinha pão, com uma grande dose de cinismo mandou dar-lhe brioches. Mesmo que as doutrinas econômicas, filosóficas, políticas e sociológicas modernas não estejam muito longe do pensamento dessa rainha, pois no decorrer dos séculos,só maquiaram as mesmas idéias com outras palavras! Precisamos ter o discernimento necessário para saber como será a vida que escolhemos e sonhamos. Para ter um futuro, tenha fé em si mesmo, ame seu país, onde você vive com seus filhos, netos e bisnetos! E mais importante: não deixe que a desilusão tome conta de você, porque ela só reforça a construção de um mundo que você não quer!

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Elda Nympha Cobra Silveira é escritora, poetisa e artista plástica (e-mail: [email protected])

 

 

 

 

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