Assembleia de Talheres  na “Casa do Povo”

Num buffet luxuoso, as louças e talheres se reuniam em um silencioso parlamento, onde a porcelana fina e os garfos de prata discutiam os destinos das iguarias servidas. Cada prato, uma cadeira no congresso das delícias, e cada talher, um representante das facções gastronômicas. Ali, talheres de elite e as finas porcelanas conspiravam em um parlamento silencioso, representando a distorção de poder na sociedade gastronômica. Os garfos de prata, arrogantes e afiados, protagonizavam acordos que aprofundavam a desigualdade no cardápio, enquanto os pratos de porcelana, símbolos de uma classe alta gastronômica, se aliavam em busca de uma distribuição mais justa de sabores.

No salão, aqueles representantes de diferentes grupos políticos se reuniam enquanto talheres de plástico, pratos de isopor e guardanapos simples de papel relegados a um canto, eram os marginalizados da sociedade de banquetes. Os talheres de plástico, relegados à margem, representavam a falta de voz daqueles que, embora alimentem os políticos, pouco participam ou compreendem as negociações nos bastidores. Só utilizados e valorizados em períodos pré-eleitorais onde todos abusavam de seus usos falsos com pratos e temperos populares deixando o caviar, a lagosta e o sushi para receberem pratos típicos das camadas esquecidas da população.

As discussões ferviam entre os talheres de prata, que buscavam privilégios cada vez maiores, e as louças, que clamavam por uma distribuição mais justa dos sabores. Os guardanapos de linho fino, sempre imparciais, tentavam mediar os conflitos, mas o aroma da injustiça pairava no ar.

Enquanto isso, nos bastidores do parlamento culinário, a comida destinada aos menos afortunados minguava. Notavam seus pratos cada vez mais vazios e suas necessidades ignoradas, enquanto os garfos de prata, indiferentes, se entregavam em bocas e mãos desdentadas com sorrisos falsos e amarelados naqueles banquetes de privilégios.

Os pratos vazios eram a prova do descaso dos legisladores do banquete. Os garfos de prata, indiferentes à escassez, continuavam a se banquetear com iguarias, enquanto os talheres de plástico se viam esquecidos, incapazes de competir na política dos sabores. A verdadeira política culinária, longe dos olhos dos famintos, era moldada por acordos que só beneficiavam a elite gastronômica.

A parábola da “Assembleia dos Talheres” reflete a triste realidade de uma sociedade desigual, onde a extravagância e os privilégios se sobrepõem à necessidade básica de alimentação para todos. Enquanto os políticos discutem seus acordos e mordomias, a falta no prato dos mais pobres e carentes é ignorada, criando um abismo cada vez maior entre os que se deliciam e os que apenas sonham com um banquete justo e igualitário. O contraste entre a opulência dos que detêm o poder e a ignorância dos que os colocaram lá é evidente. Enquanto os representantes das classes gastronômicas discutem e se banquetear com privilégios, a maioria faminta é deixada às margens, alheia aos processos que moldam o destino de seus pratos. É uma crítica contundente à falta de transparência e participação das massas na elaboração das políticas que impactam diretamente suas vidas.

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Gregório José, jornalista, radialista, filósofo

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