Ensinar é vocação

José Renato Nalini

 

A licenciatura para o Magistério passa a exigir quatro anos de curso e não mais três, como até agora. Foi uma decisão do Conselho Nacional de Educação, que ainda definiu que o curso deverá ser conectado à BNCC, a Base Nacional Comum Curricular.

Hoje, a maior parte dos professores cursa EAD – Ensino à Distância. O que não é ruim, se o estudante dispuser do ingrediente sem o qual nunca será um docente: a vocação.

Antigamente, o Curso Normal preparava para o Magistério e os professores eram pessoas das quais o aluno não se esquecia jamais. O declínio dos valores, a vulgarização dos costumes, a falta de polidez e certa negligência em boa parte dos lares fez com que o professor se tornasse um ser pouco respeitado.

Sem bons professores, não há futuro. O prestígio também decorre de uma remuneração adequada. Mas não é apenas o salário que dignifica o mestre. É o respeito, é o carinho, é a amizade dos alunos e de suas famílias.

O 15 de outubro, em outros tempos, era uma data memorável. Os alunos costumavam levar uma lembrança para a professora. Uma maçã, uma flor, um livro. Qualquer gesto significativo da afeição e da gratidão era bem aceito. Até na Faculdade, havia uma disputa para a escolha de quem saudaria cada professor nesse dia. Hoje as coisas são um pouco diferentes.

Chico Alencar, que escreveu “Educar na esperança em tempos de desencanto”, Ed.Vozes, diz que o Dia do Professor começou a ser comemorado no Brasil em homenagem a Santa Teresa D’Ávila, Doutora da Igreja. Só se tornou oficial em 1963, com decreto de João Goulart (1918-1976). Educar é descentrar, humanizar, ensinar a olhar para fora, para o mundo e para dentro de si mesmo. “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”, disse Guimarães Rosa (1908-1967).

A grande Gabriela Mistral (1889-1957), chilena que é prêmio Nobel de Literatura de 1945, elaborou o decálogo do professor, que seria interessante todos os alunos soubessem: 1. Ama. Se não podes amar muito, não ensine às crianças; 2. Simplifica. Saber simplificar sem tirar a essência. 3. Repete. Repete como a natureza repete as espécies, até alcançar a perfeição. 4. Ensina com a intenção da beleza, porque a beleza é mãe. 5. Professor, seja fervoroso. Para acender lâmpadas, basta levar fogo no coração. 6. Vivifica a tua classe. Cada lição tem que ser vivida como um ser. 7. Lembra-te de que o teu ofício não é mercadoria, senão um ofício divino. 8. Lembra-te. Para dar há que ter muito. 9. Antes de ditar a sua lição cotidiana, olha o seu coração e veja se está puro. 10. Pensa que Deus começou a criar o mundo de manhã.

Hoje, o conceito de educação, direito de todos e dever do Estado, da família e da sociedade, é bastante amplo. Todos aprendem e ensinam ao mesmo tempo. Ensina-se até mesmo pelo exemplo. De como se deve ser e de como não se deve ser. Mas existe um profissional que foi vocacionado a transformar as pessoas mediante o exercício amorável do magistério. É esse que devemos respeitar, resgatar seu prestígio e homenagear. Independentemente de que seja o “Dia do Professor”, celebrado a cada 15 de outubro.

_____

José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-Graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL) 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima