A riqueza traz a felicidade?

Alvaro Vargas

 

Após analisar a sua vida e a riqueza acumulada, o rei Salomão (931 a.C.) concluiu que a felicidade não é uma possibilidade neste mundo (Eclesiastes, 2:4-11). Essa também é a opinião de Allan Kardec (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 5, item 20) ao citar que “com efeito, nem a riqueza, nem o poder, nem mesmo a florida juventude são condições essenciais à felicidade. Digo mais: nem mesmo reunidas essas três condições tão desejadas, porquanto incessantemente se ouvem, no seio das classes mais privilegiadas, pessoas de todas as idades se queixarem amargamente da situação em que se encontram”. Com base nessas afirmações, não deixa de ser intrigante o que realmente devemos fazer para sermos felizes, pois, em nossa sociedade, a conquista da riqueza é a principal meta da maioria dos indivíduos, como fosse uma fórmula mágica para a felicidade. Lamentavelmente, nessa busca, ainda existem aqueles que após conquistarem as riquezas desejadas, tornam-se escravos de suas fortunas e, outros, que mesmo sem as possuir, permanecem escravizados ao desejo da posse.

A premissa de que a riqueza traz a felicidade motivou os pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, a desenvolverem um projeto sobre esse assunto (Estudo de Harvard sobre Felicidade). Esse estudo, iniciado em 1938, levou 76 anos, analisando 724 participantes – jovens de famílias desfavorecidas e problemáticas de Boston e alunos de graduação em Harvard. A pesquisa acompanhou esses dois grupos durante toda a vida, monitorando seus estados mental, físico e emocional, e aqueles que atingiram, em termos de situação financeira e o sucesso profissional. A conclusão é que o fator mais importante para nos mantermos felizes e saudáveis ao longo da vida, é a qualidade dos nossos relacionamentos. Foi observado que nos casais mais bem conectados entre si, o corpo e o cérebro permaneceram saudáveis por mais tempo. Na visão dos pesquisadores, uma relação de qualidade apresenta-se quando as pessoas se sentem seguras e podem ser elas mesmas. A riqueza não teve influência na felicidade, e o estudo demonstrou que, além de um nível em que as nossas necessidades são satisfeitas, o aumento da renda não traz, necessariamente, a felicidade.

Entretanto, para analisar as adversidades humanas e estabelecer hipóteses sobre os fatores que influenciam a nossa felicidade, é imprescindível considerar as implicações espirituais que norteiam a nossa existência aqui na Terra, e não apenas a saúde física dos indivíduos, a sua situação financeira ou amorosa. Somos Espíritos eternos, e reencarnamos com o objetivo de enfrentar determinadas experiências, compatíveis com o nosso nível evolutivo. Nosso planeta não é o único orbe habitado, pois, Jesus nos afirmou que existem muitas “moradas” no universo (João, 14:2). Na visão espírita, por força da lei do progresso, à medida que o Espírito completa seu aprendizado num mundo, passa a habitar outro mais evoluído, e assim sucessivamente, até se tornar um Espírito puro. Como estamos nos primeiros estágios desse processo, em um mundo de provas e expiações, a felicidade não é deste mundo porque ainda não nos libertamos dos instintos primitivos que nos mantém presos a um ciclo de experiências dolorosas, só superável quando vivenciarmos de fato, a Boa Nova de Jesus. Deus nos concedeu o livre arbítrio associado a lei de ação e reação. Como todas as iniquidades praticadas em nossas reencarnações encontram-se registradas em nosso Espírito imortal, somos compelidos pela justiça divina a passarmos pelas mesmas experiências dolorosas que causamos a outros indivíduos. Assim, além da qualidade de nossos relacionamentos, existem as implicações espirituais que afetam a nossa felicidade. Entretanto, em qualquer situação, podemos vivenciar os ensinamentos de Jesus e ter a consciência tranquila, o que se caracteriza como a felicidade possível de ser conquistada neste mundo.

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante espírita

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