Rica gastronomia

Edson Rontani Júnior

 

 

Conta a história que boticários eram os únicos profissionais a manusear produtos com álcool. Assim, os botequins eram ponto de encontro dos doentes e daqueles que “socialmente” bebiam misturas com álcoois. Com o passar do tempo, o botequim virou bar e, para nossa alegria, proporcionaram momentos prazerosos juntos as petiscos e bebidas fermentadas e destiladas.

Bares, restaurantes, botecos sempre fizeram de Piracicaba um centro geográfico de referência. Basta ver os encontros realizados à beira do rio Piracicaba, na rua do Porto, reunindo comensais de outras cidades para uma boa gastronomia e contemplação da natureza.

Na virada do século passado, Piracicaba possuía cerca de 30 e poucos botequins, como o de propriedade de Salvador Cesário e o de Antonio da Costa Pinto. Ambos estavam no largo da Matriz (então praça 7 de setembro, hoje praça José Bonifácio). O segundo era anexo ao Teatro Santo Estêvão. Guanchuma (cerveja de baixa fermentação) era a sensação no bar de Salvador no final do século 1800.

O “Almanak de Piracicaba para 1900” apontava 12 botecos na rua Moraes Barros (então rua Direita), administrados por Derossa Antonio, Done Pacchine, Elydio Lopes, Fernando Perez, Francisco Alferes, João Baptista Mathias, Manoel Antônio Rabello, Oraboa Thomaz (corruptela de “hora boa de tomar” ???), Paschoal Didoni, Sabio Antonio, Sebastião Mugerina e Sophia Castro & Cia. Não, à toa, Piracicaba sempre teve vida noturna com suas nostálgicas serestas …

O Bar e Restaurante Buriol era uma das “principais casas comerciais de Piracicaba”, antecipando a “Banda do Bule”. Buriol foi um carnavalesco de visão, criando nos anos 1940 o “Cordão do Bairro Chinês” com carros alegóricos e seus participantes vestidos de chineses. Era um concorrente de outro notório cordão, “Os Cometas”. No bar, o carnaval era discutido até altas horas. Funcionou na rua Moraes Barros nº 1741 e depois na Boa Morte.

Citar nomes é uma enrascada, pois muitos deles e diversas outras situações ficam de fora. Não é lapso da memória. É a contenção de caracteres exigida para a composição deste texto. Nem é intenção do autor relembrar a história completa de bares e restaurantes e sim rememorar alguns fatos passados na cidade.

Um dos casos é o Restaurante do Janjão tinha este nome em homenagem ao seu criador João Baptista de Castro, alcunha pela qual era conhecido. Foi o embrião do Hotel Central na atual praça da Catedral. O centro gastronômico foi aberto em 31 de janeiro de 1891.

Outra bela iniciativa comercial. Augusto Cardinalli (1904/1989) abriu o Bar do Gustinho na casa de seu pai na Vila Rezende. Tinha anexa ao bar uma loja de presentes, motivo que o levou para o Centro de Piracicaba abandonando a gastronomia e criando um ícone do comércio denominado Ao Cardinalli (presentes) e A Insinuante (confecções femininas).

Outras referências: Restaurante Gamela (rua Alferes José Caetano) foi criado nos anos 1960 por Amâncio Clemente. Leonardo Chiavone teve o Bar Seleto na rua São José, andar térreo do Clube Coronel Barbosa.

Samuel Prfomm Neto em seu “Dicionário de Piracicabanos” registra a Confeitaria e Restaurante Porta Larga no início do século passado. Não à toa, o Torra Torra, que funciona no mesmo local, oferece concorridos almoços de segunda a sábado. A propriedade era de José Maria Fernandes também dono da Confeitaria Progredior, “talvez o mesmo estabelecimento com nova denominação”.

Encerrando… A família Lescovar trouxe muito prazer à mesa. Quem é piracicabano bem o sabe. A saga começa com Fernando proprietário do Bar e Restaurante Comercial, na rua Moraes Barros onde situa-se hoje o Edifício Georgetta Brasil. Lá por volta de 1953, é fechado o estabelecimento e a família passa a administrar o Bar e Restaurante Brasserie (anteriormente dos irmãos Gianetti – Umberto, Bene e Francis – adquirido em seguida por Ambrósio R. Gonçalves). Encerrou suas atividades em 2006. Uma pena para os notívagos.

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Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

 

 

 

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