Boulevard Boyes: na contra-mão do interesse público

José Aparecido Borghesi

José Machado

 

O que se segue é a opinião de dois cidadãos destituídos hoje de qualquer poder político e desinteressados em adquiri-lo, e que não alimentam a veleidade de serem donos da verdade.

Feito esse esclarecimento, pronunciar-nos-emos sobre o projeto denominado “Boulevard Boyes”, um conjunto de obras civis que se pretende implantar no espaço ocupado pelas instalações da antiga fábrica têxtil “Boyes”, por iniciativa dos seus proprietários. Tal imóvel está tombado desde 2004 pelo poder público municipal, incorporando-se ao patrimônio histórico-cultural de Piracicaba. Situa-se na margem esquerda do Rio Piracicaba e compõe com outras instalações históricas, como o complexo da Rua do Porto, o Engenho Central, o Parque do Mirante, o Museu da Água, a Casa do Povoador, o Palacete Luiz de Queiroz, o Largo do Divino e a própria Praça da Boyes, um conjunto urbano de inigualável valor histórico, cultural, ambiental e paisagístico dos mais significativos, pode-se dizer, do Brasil.

Alinhamo-nos, sem titubear, aos argumentos brandidos pelo amplo e contundente movimento social em curso na cidade contra o projeto:

Desrespeito ao Patrimônio Cultural: O projeto está inserido em uma área tombada e próximo a vários outros bens culturais protegidos e irá descaracterizar e eclipsar esse riquíssimo conjunto patrimonial, que orgulha Piracicaba.

Verticalização Excessiva: As quatro torres residenciais de 29 pavimentos e 90,5 metros de altura que o projeto contempla alterarão significativamente o skyline da cidade e impactarão a apreciação dos elementos históricos e naturais da região.

Aumento no Tráfego Local: A inclusão de 440 unidades residenciais e 1500 vagas para automóveis sobrecarregarão inevitavelmente a infraestrutura viária da cidade, dificultando o acesso e prejudicando o trânsito local.

Impacto no Turismo e Economia Local: A região impactada tem significativa relevância turística. A construção de um empreendimento desta escala diminuirá a atratividade da área e, consequentemente, afetará negativamente a economia local.

Descaracterização do Ambiente: Se implantado, o projeto alterará a manutenção da essência e da alma da cidade de Piracicaba, transformando uma área de rica significação histórica e cultural em um espaço verticalizado e certamente elitizado.

Questionável Cumprimento da Legislação: A aprovação do projeto pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba – CODEPAC, no último dia 16 de junho, pelo placar de 12 votos favoráveis, 1 contra e 2 abstenções, está, salvo melhor juízo, em completa dissonância com o que dispõe o artigo 24 da Lei Complementar 171/2005, literis: “Somente será permitida, a juízo do CODEPAC, num raio de 50 (cinquenta) metros a partir dos imóveis tombados, a edificação ou reforma que não impeça, não reduza sua visibilidade, não ultrapasse sua altura, nem modifique o ambiente ou paisagem histórica, ecológica ou turística do local, evitando que contraste ou afronte a harmonia do conjunto, reduzindo ou eliminando o valor ou a beleza original do bem protegido.”

Esse dispositivo legal é límpido e cristalino e custa-nos acreditar que esse prestigioso Conselho tenha tomado tão lamentável decisão, suscitando sérias dúvidas a respeito.

Falta de Transparência e Debate Público: A rapidez na aprovação do projeto e a falta de um debate público amplo e detalhado evidenciam uma lacuna democrática no processo, sonegando ao conjunto da sociedade piracicabana o direito de se pronunciar sobre algo que lhe é tão transcendental.

Ignorância dos Impactos Socioeconômicos e Ambientais: O projeto foi aprovado sem uma consideração cuidadosa dos potenciais impactos negativos na comunidade e no meio ambiente.

Mudanças no Zoneamento: Alterações recentes no Plano Diretor da cidade parecem estrategicamente voltadas para facilitar empreendimentos como este, colocando em xeque a ética do planejamento urbano local.

Precedente Perigoso: A aprovação desse projeto pode abrir um precedente para outros empreendimentos que comprometam ainda mais o patrimônio histórico e cultural da cidade.

Resumimos numa frase nossa posição: o projeto Boulevard Boyes é uma verdadeira aberração urbana, uma afronta ao povo de Piracicaba e não pode prosperar.

Os que, investidos de poder, permitirem a execução de tal projeto terão que prestar contas à História de Piracicaba.

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José Machado e José Aparecido Borghesi foram prefeitos de Piracicaba

 

 

 

 

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