A quarentena para combater a pandemia do novo coronavírus impôs a diversos setores a necessidade de se reinventar. Com o setor cultural não foi diferente. O segmento que representa cerca de cinco milhões de trabalhadores no País (5,7% do total de ocupados no Brasil, conforme dados do IBGE de 2018), enfrenta esse enorme desafio.
Para falar sobre esse assunto e detalhar mudanças no setor da música, o diretor artístico associado da OSP (Orquestra Sinfônica de Piracicaba), André Micheletti, participou de live no Instagram do programa Parlamento Aberto, na tarde desta quinta-feira (21).
Micheletti reforçou a preocupação com os 60 músicos que complementam a orquestra e agora não podem trabalhar. “Somos responsáveis pela manutenção de muitas famílias. Cada um dos músicos é uma identidade e esta, por sua vez, é responsável ou por si mesmo ou por núcleos familiares. Isso chega a ser constrangedor para nós que estamos na direção”, reconheceu.
Ele explicou como funciona a manutenção da orquestra e o pagamento dos músicos, tendo em vista que é uma entidade sem fins lucrativos. Segundo ele, uma parte do orçamento vem da Prefeitura via SemacTur (Secretaria Municipal de Ação Cultural e Turismo) e a outra parte via leis de incentivo à cultura, como a Lei Rouanet (Pronac) pelo governo federal e o Proac, pelo governo estadual. “Por meio dessas leis temos a dedução do Imposto de Renda de empresas e que são revertidos a iniciativas que atuam no setor artístico-cultural. Ou seja, quando não há prestação deste serviço, não há pagamento”, contou.
Micheletti reforçou, entretanto, que as atividades e os concertos necessitam de pessoas aglomeradas, não só na plateia, mas também no palco. “Por isso, também pensamos sobre o risco que poderia causar na integridade física dos músicos, bem como das pessoas que trabalham no teatro”, destacou.
Como forma de se reinventar, a orquestra, que antes já se dedicava às mídias sociais, passou a usá-las mais diariamente, levando o público a acompanhar concertos, dia a dia dos músicos e a adquirir conhecimentos, por meio de vídeos, sempre às 19h.
Às terças-feiras, o perfil da orquestra no Instagram realiza live com Micheletti ou com o regente titular Jamil Maluf, com participação de grandes nomes da música ou da pedagogia musical do Brasil ou do mundo.
Já nas quartas, no Instagram e no Facebook, há o compartilhamento dos músicos que falam sobre a rotina na pandemia e novas formas de empregabilidade. Este músico retorna na quinta-feira, nas mesmas redes, com uma apresentação com instrumento.
No domingo, no Instagram, Facebook e Youtube, é realizada reapresentação de concertos da orquestra no teatros municipais de Pircacicaba, Losso Neto e Erotídes de Campos, assim como em São Paulo ou em Campos do Jordão.
“Em um momento de crise como estamos vivendo, as pessoas de maneira geral precisam dessa expressão artística, que vai muito além das palavras. E vista disso, a população tem recebido as atividades online das orquestras de muito bom grado”, contou Micheletti.
O diretor também comentou sobre iniciativas de amparo aos artistas. Uma delas é o chamamento público da SemacTur, divulgado na quinta-feira (21), em que será promovido entre 25 de maio a 10 de junho, concurso cultural da Mostra Virtual de Arte e Cultura, o ResPirArte. A iniciativa está alinhada às metas do Plano Municipal de Cultura, de acordo com a Lei Municipal 9.355/2019 e dará auxílio financeiro para contemplar artistas nas áreas de música, dança, cinema, artesanato, artes cênicas, audiovisual, literatura, cultura popular, entre outros compatíveis com a linguagem audiovisual.
A ficha de inscrição e o edital do chamamento público estão disponíveis nos sites da Prefeitura Municipal de Piracicaba; da SemacTur e do Portal dos Conselhos/ComCult.
Outra iniciativa, porém em âmbito estadual, é o projeto de lei 253/2020, que tramita na Assembleia Legislativa de São Paulo e tem como foco o auxílio imediato a trabalhadores da cultura que estão na base das produções – artistas e técnicos – e espaços culturais de pequenos porte que correm o risco de fecharem suas portas.
“Tudo isso é uma forma de ver o artista e notar que ele precisa ser amparado”, disse.
O diretor artístico da OSP, que também é professor de música da USP (Universidade de São Paulo), em Ribeirão Preto, contou que na unidade escolar os alunos tem sido acolhidos para continuarem as aulas online, por mais que sejam difíceis de serem ministradas.
“Acho que com as aulas online nós, professores, só podemos passar 30% daquilo que poderíamos passar nas aulas presenciais. Entretanto, o governo tem agido bem e está emprestando laptop e dando esse acolhimento aos alunos”, contou.
Para ele, tanto a área musical quanto a área de ensino sofrerão impactos na pós-pandemia. “Assim como ocorreu depois da Primeira Guerra, vai ser algo tão grande e de impacto na sociedade que muitos terão que se reinventar. Não temos como saber como vai ser”, disse.
PROJETOS
A OSP, que este ano completa 120 anos, possui iniciativas que unificam arte, formação e educação. Durante a live, Micheletti reforçou que, com o enfoque de trazer uma nova fórmula de orquestra sinfônica no país, a entidade se inspirou nos projetos de ensino, artístico e formação de plateia da cidade de Barra Mansa, no Rio de Janeiro, e dos irmãos Venturelli, o projeto Bacarelli, na comunidade Heliópolis, em São Paulo.
“O que se vê nesses locais é o topo da pirâmide. Eles realizam formação musical e formação de base, o que já acontece em Piracicaba em escolas municipais”, disse, ao destacar o projeto Pequena Grande Orquestra, realizado desde 2018, em que que 72 estudantes recebem aulas de violino, com a intenção de formar uma orquestra infantil.
Além deste projeto, a orquestra também realiza mais dois envolvendo formação musical para crianças: o ABC do Dó Ré Mi, em que estudantes da rede municipal de ensino visitam o teatro para o que se definiu como “showcerto”, e o Música nas Escolas, em que músicos vão até as escolas públicas, em formato de orquestra de câmara, levar música aos alunos.
“Tivemos um golpe muito forte com a parada por conta da pandemia. Neste ano, havíamos programado a comemoração dos 120 anos da OSP, em meio ao ano em que ficou definido como ‘Ano de Beethoven’ (em homenagem aos 250 anos de nascimento do músico). Tínhamos programados a vinda de artistas de fora. Mas, infelizmente, esses projetos estão parados por enquanto. Foi um impacto muito grande que todos sofremos”, destacou.
Para acompanhar mais informações da OSP, acesse www.sinfonicadepiracicaba.org.br. Você também pode acompanhar no Instagram, Facebook e Youtube.