Gosta de mel? Gostava…

José Renato Nalini

 

 

O uso indiscriminado de agrotóxicos e herbicidas proibidos nos países de origem, mas comprados pelo Brasil, vai acabar com muita coisa. A começar pelas abelhas. Elas são mais sensíveis e morrem no contato com venenos como o Fipronil.

Em Ribeira do Pombal, a quase trezentos quilômetros da Salvador, mais de oitenta milhões de abelhas morreram em menos de um mês. A mortandade atingiu mil colmeias de trinta e dois apicultores, é o que noticia a Cooperativa de Apicultores de Ribeira do Pombal.

Algo semelhante aconteceu em Mato Grosso, onde morreram mais de cem milhões de abelhas, diante do uso indevido do veneno Fipronil. Ele foi lançado por avião agrícola em uma fazenda de algodão da cidade de Sorriso, que dista quatrocentos e vinte quilômetros de Cuiabá.

Os exames laboratoriais comprovaram a causa-mortis e, para variar, governo tergiversa, porque a importação desse veneno é de interesse do ogronegócio. A empresa alemã BASF era a fornecedora comercial exclusiva desse veneno. Divulgou uma nota dizendo que “não comercializa produtos à base de fipronil para uso em aplicação foliar e aérea”. Seus produtos são indicados exclusivamente para tratamento de sementes, com aplicação da substância direta no solo.

Essa notícia coincide com a constatação de que, no primeiro semestre, houve liberação de herbicidas no mesmo ritmo do governo anterior. A proibição de uso do fipronil para aspersão já existe desde 2012. Mas, à evidência, ela não funciona.

Com isso, acabam as abelhas e, com elas, primeiro o mel. Depois, a polinização, pois tais trabalhadeiras prestam serviços ecossistêmicos de valor incalculável e não reconhecido por um governo que ainda pouco fez para mostrar que não é mais o festejado “Pária Ambiental”.

É urgente que o Ministério Público, que na verdade foi o único defensor da natureza e da ecologia, tome as providências necessárias a fim de que isso não se dissemine por todo o Brasil. Por enquanto, o morticínio tem acontecido na Bahia e em vários municípios: Ribeira do Pombal, Cipó e Nova Soure. E também no Mato Grosso, na cidade de Sorriso.

As coisas ruins se espalham. Ninguém está livre de ter ao seu lado alguém que não se importe com a letalidade dos herbicidas e prossiga a usar produtos repudiados em países civilizados, mas aqui largamente utilizados. Parece que o brasileiro não merece a generosidade com que a Providência o privilegiou, dando-lhe, gratuitamente, esta exuberante biodiversidade.

_____

José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima