Falar sobre suicídio, em geral, sempre foi considerado tabu. Mas, infelizmente, é inegável que essa causa mortis tem crescido no Brasil e no mundo a passos largos, destruindo vidas, sonhos e famílias inteiras. O mês de setembro, que começa hoje, é marcado pelo início da Primavera, mas também pela campanha “Setembro Amarelo”, que coloca em evidência as causas e as formas de prevenção do suicídio.
O site setembroamarelo.com traz informações preciosas sobre a campanha e o que fazer para que o assunto seja tratado sem preconceitos, sem culpabilizar pessoas que sofrem com depressão, colocando sobre elas um fardo ainda mais pesado do que elas já carregam. Em minha longa experiência atendendo pessoas em situação de vulnerabilidade social, tem algo que aprendi e que levo no meu dia a dia: ter empatia é, sempre, o primeiro passo.
Como bem pontua o material informativo da campanha Setembro Amarelo, não podemos ignorar o suicídio: “Em dados recentes apresentados pela Organização Mundial de Saúde – OMS, o continua sendo uma das principais causas de morte em todo mundo. O relatório ‘Suicide Worldwide in 2019’ revelou que durante o período, mais de 700 mil pessoas morreram por suicídio, o que representa uma a cada 100 mortes. Entre os jovens os dados são ainda mais preocupantes. Na faixa etária de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta causa de morte, ficando atrás apenas de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal. A idade média das pessoas que cometem suicídio está cada vez menor. Ações efetivas fizeram com que o número de suicídios no mundo diminuísse, mas infelizmente, nas Américas, a taxa subiu 17% (Dados referentes a 2019 – OMS).”
COMO RECONHECER QUE ALGUÉM PRECISA DE AJUDA? – No material da campanha Setembro Amarelo – que, aliás, é disponibilizado gratuitamente no site – são apontados alguns “fatores de risco” para o suicídio. Por isso, precisamos ficar atentos quando a pessoa possuir mais de dois fatores e falar sobre ideação suicida. Entretanto, muitos indivíduos
podem ter um ou mais fatores de risco e não terem intenção suicida.
São os fatores de risco: 1) diagnóstico de doença psiquiátrica; 2) tentativa prévia de suicídio; 3) histórico familiar de comportamento suicida; 4) presença de outros comportamentos auto lesivos; 5) abuso e dependência de álcool e outras drogas; 6) abuso sexual na infância; 7) comportamento impulsivo; e 8) pessoas que falam: “que gostariam de sumir”; “que não aguentam mais viver”; “que não tem mais esperança”; “nada mais faz sentido”; “sinto uma dor que não passa”. Elas podem estar com ideação suicida.
Além destes fatores, existem outros que não são determinantes, mas devem ser avaliados, como separação conjugal, desemprego, conflitos familiares e fácil acesso a meio letal.
COMO AJUDAR? – Seguem algumas dicas de como ajudar uma pessoa com ideação suicida. Em uma conversa, em primeiro lugar, ouça com atenção o que a pessoa está sentindo. Não julgue, não tenha preconceito. Não dê conselhos: “você precisa sair mais de casa”, “você precisa esquecer isso…”, dentre outros. Demonstre que é alguém de confiança. Não faça comparações. Não mude de assunto, nem faça comentários do tipo: “anima-te”, “vai correr tudo bem”. Não ria ou faça piadas. Não hesite em questionar aberta e diretamente a ideia de suicídio: “você pensa em morrer?”
Ações que salvam vidas: acompanhe ao psiquiatra ou psicólogo; ambos os profissionais também fazem atendimento online em sites especializados; encaminhe ao serviço médico e peça ajuda a um profissional de saúde; não deixe a pessoa sozinha, portas não devem ser trancadas; fique atento aos sinais; não deixe a pessoa próxima de meios letais, isso reduz o risco imediato; acredite em ameaças, o impulso para o suicídio é transitório e pode durar minutos ou horas, por isso a ação imediata é tão importante.
Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids, Sífilis e Hepatites Virais)