Amor imperial por São Paulo

José Renato Nalini

 

Os dois únicos Imperadores do Brasil amavam profundamente São Paulo. Pedro I proclamou a independência na capital paulista. Era daqui a sua mais importante conquista amorosa. Pedro II evidenciou o seu favoritismo por nosso Estado vindo bastante aqui. Amigo do ensino, acompanhava de perto o desenvolvimento da Faculdade de Direito inaugurada quando ele era criança. Sempre que possível, assistia pessoalmente as defesas de tese dos doutorandos e não se recusava a participar de aulas expositivas, interessando-se pelo assunto prelecionado pelos lentes.

Uma de suas viagens, em 1846, durou praticamente um semestre, dois dos quais em São Paulo. A Corte já estava preocupada e o Presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro fez publicar, a 3 de abril, um edital de convite a todos os habitantes da capital “para iluminarem as frentes de suas casas, tanto na noite do dia em que Suas Majestades Imperiais entrarem no porto da capital, como na daquela em que se dignarem de desembarcar”. Ainda recomendava que os moradores ornassem as frentes de suas casas, para o cortejo imperial.

Só a 14 de abril é que Suas Majestades embarcaram em Santos. Na madrugada de 15, partiu a esquadra, composta da fragata “Constituição”, corvetas “Sete de Abril” e “Euterpe”, brigue-escuna “Fidelidade” e corveta portuguesa “D. João I”.

Ao anoitecer de 15, os navios estavam a leste da ilha da Moela, valendo-se dos favoráveis ventos do quadrante norte. Mas a velocidade das naus era a de quelônios.  Enquanto isso, a azáfama ocupava os serviçais do Paço e também os comerciantes, ávidos por lucrarem alguma coisa com o retorno do casal Imperial.

Mas a viagem levou doze dias. Só em 26 de abril voltava Pedro II à sua fiel capital, que o recebeu com entusiásticas demonstrações de júbilo. Os áulicos sabiam agradar o monarca. E ele não recusava os afagos.

O importante é refletir sobre essa devoção de Pedro II pelo ensino, pela educação, pela cultura, pelas artes. Eram atributos que ornavam o perfil dos governantes. Onde foram parar?

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José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras

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